Uma das características que admiro numa pessoa é aceitar-se tal e qual é. Saber de onde veio, falar do seu passado sem vergonha, sem se comparar a ninguém e perceber o quanto as suas origens o enriqueceram até chegar aqui.
Não é necessário seu um pobrezinho (como antes se dizia) mas há por aí muita gente a tentar colocar-se em bicos de pés, a inventar para si e para os outros um passado que foi criado nas suas cabeças e nunca existiu. Tudo tão obvio por entre as vírgulas dos sues discursos supostamente polidos e cheios de pormenores estudados à pressa!
Acordem! O nosso passado somos nós. A nossa família é a nossa maior riqueza e o passaporte para uma vida cheia de sucesso.
Os meus dois irmãos têm sotaque beirão. Eu não tenho, não sei porquê! Talvez por não ter nenhuma queda para as línguas ou porque vivi e convivi lá menos tempo. Não é que me orgulhe disso mas eles têm grande orgulho no seu sotaque beirão que mostra a todos de onde são e quais os valores que os norteiam.
Gosto de saber fazer coisas que ninguém sabe como amassar pão e cozê-lo no forno de lenha, temperar um cabrito e assá-lo no forno, cortar as batatas para as semear e tirá-las da terra com todo o trabalho necessário pelo meio, fazer compotas para o Inverno, todos os procedimentos da matança do porco, plantar uma horta e tratar dela, matar lesmas com sal, colocar armadilhas para as toupeiras, cortar feno para os animais, apanhar castanhas e nozes, e por aí adiante. Paralelamente, sei colocar uma mesa com todo o preceito, receber pessoas e fazer festas à volta da mesa, cozinhar pratos complicados, decorar uma casa, gostar de estar rodeada de objectos de qualidade e de bom gosto. Profissionalmente, nada me impediu de assumir todos os cargos existentes num agrupamento, alguns deles bastante exigentes, de ser uma boa professora, de ter a capacidade de me dar a cada um dos meus alunos e perceber muito bem as suas vidas longe da escola.
Ter uma vida rica não é para esconder! É para agradecer todas as oportunidades de aprendizagem que esta condição nos trouxe. Viver 10 anos numa aldeia em que todos eram família e ter sido empurrada para uma escola de cidade, em zona nobre, onde não conhecia ninguém e todos os meus colegas tinham frequentado colégios e eram filhos de algumas das famílias mais influentes, tornou-me mais forte. Sobrevivi e aprendi.
Ontem pensava nisto enquanto ouvia o nosso Presidente, filho família, vivendo sempre em cama de penas e não conhecendo e não conseguindo interagir com verdade com as pessoas que não são assim. É como se fosse um muro de incompreensão. Uma vida pobre do ponto de vista emocional que, apesar das grandes notas académicas, não lhe trouxe o conhecimento necessário do mundo e das coisas. O mesmo acontecia com Paulo Portas quando se via em feiras ou festas populares. Um ser fora da sua zona de conforto onde tudo o que fazia ou dizia, soava a falso.
Montenegro está noutro nível. Assume-se tal e qual como é. Sabe e tem orgulho nas suas raízes e isso nota-se. Sabe falar com todos, não tem medos está de bem com ele próprio. Gosto disto.
Ser verdadeiro é sempre a melhor opção.