domingo, 24 de abril de 2022

Estes dias estranhos

Os teus goivos estão floridos  e bonitos. Continuam a cheirar bem!

 Foste embora pela madrugada. Mentia se dissesse que não antevia esse momento. Cada vez mais fraca, cada vez com mais dificuldade em articular, as veias muito azuis nas tua pele sempre tão branquinha e fina e uma fragilidade que não era tua.

Este tempo horrível de não visitas fez-me tanto mal! O vidro que separava dois corpos que só queriam sentir o calor um do outro. Estendias a mão para o vidro e eu colocava a minha mas era só vidro frio o que se sentia! Um mero quarto de hora a olhar para ti, a ver o teu olhar horrorizado, nunca conformado,  porque nunca foste mulher de te conformar. Mulher de luta, sim! Pelas tuas causas, por tudo em que acreditavas.  E foram tantas as lutas mãe!

Quando  regressavas à sala, ficava a ver-te ir sabendo que podia ser essa a última vez que te via com vida. Até que essa vez chegou sem o saber e lembro-me que te disse que ia  só a casa e voltaria para ti. Penso que já não percebias mas eu sentia mais paz em saber que não pensavas que te abandonava. Logo a ti, que nunca  me abandonaste!

A vida sem ti não é igual. Uma solidão imensa apoderou-se de mim. Um tempo de abandono em que parece que ninguém se interessa por mim como tu. Uma orfandade imensa. Uma vontade imensa de voltar lá para trás e viver novamente contigo.

Tenho saudades do teu riso, da tua ingenuidade tão engraçada  frente à maldade humana,  da tua generosidade para com todos, do teu amor por nós sempre traduzido em abnegação, em sacrifícios,  em  ajuda. 

Quiseste para nós o melhor do mundo. As melhoras escolas, a melhor formação, as melhores oportunidades, a melhor educação.  Sabias onde nos querias e os valores  que nos querias  transmitir  ficaram  gravados em nós para todo o sempre. 

Tenho tantas saudades dos outros tempos em que ainda conversávamos sobre as nossas vidas! Tenho pena de não te ter dado  muito mais abraços quando precisavas. Sabes, a tua grandeza tornava lamechas os gestos de ternura. O teu amor era dedicação, conversas e muito trabalho à mistura. 

Grande mãe, grande filha, grande mulher! Tenho um orgulho imenso em ser  tua filha.

sexta-feira, 22 de abril de 2022

Já me apetecia voltar!

 


Tempo de interregno! Muito tempo mesmo! Precisava dele para redefinir a vida e as coisas em tempo de pandemia. 

Muitas coisas aconteceram na minha vida. 

Em Fevereiro, serenamente, a minha mãe partiu para Deus.  A sua partida fechou um ciclo longo na minha vida e abriu o ciclo da orfandade. Nunca me senti tão só como agora. 

Fez-me sentir com profundidade o sentido da vida e alterar muita coisa no meu dia a dia. Este murro no estômago, criou uma grande ânsia de viver e de me dar.  Estou mais afoita, menos presa ao politicamente correcto, menos exigente com os outros e muito mais comigo mesma. 

Valorizo muito mais o que vai acontecendo e preparo grandes mudanças na minha vida. Oxalá se concretizem. 

Mudei o corpo e o espírito. Sinto muito mais leveza em tudo o que faço e penso e relativizo com muito mais facilidade tudo o que me aborrece. O silêncio tornou-se um grande conselheiro.

Faço muito mais aquilo que realmente gosto. O tempo encurta.

Andava com vontade de voltar aqui! Mesmo que ninguém leia, é um acertar de ideias comigo mesma que me faz bem.