Foste embora pela madrugada. Mentia se dissesse que não antevia esse momento. Cada vez mais fraca, cada vez com mais dificuldade em articular, as veias muito azuis nas tua pele sempre tão branquinha e fina e uma fragilidade que não era tua.
Este tempo horrível de não visitas fez-me tanto mal! O vidro que separava dois corpos que só queriam sentir o calor um do outro. Estendias a mão para o vidro e eu colocava a minha mas era só vidro frio o que se sentia! Um mero quarto de hora a olhar para ti, a ver o teu olhar horrorizado, nunca conformado, porque nunca foste mulher de te conformar. Mulher de luta, sim! Pelas tuas causas, por tudo em que acreditavas. E foram tantas as lutas mãe!
Quando regressavas à sala, ficava a ver-te ir sabendo que podia ser essa a última vez que te via com vida. Até que essa vez chegou sem o saber e lembro-me que te disse que ia só a casa e voltaria para ti. Penso que já não percebias mas eu sentia mais paz em saber que não pensavas que te abandonava. Logo a ti, que nunca me abandonaste!
A vida sem ti não é igual. Uma solidão imensa apoderou-se de mim. Um tempo de abandono em que parece que ninguém se interessa por mim como tu. Uma orfandade imensa. Uma vontade imensa de voltar lá para trás e viver novamente contigo.
Tenho saudades do teu riso, da tua ingenuidade tão engraçada frente à maldade humana, da tua generosidade para com todos, do teu amor por nós sempre traduzido em abnegação, em sacrifícios, em ajuda.
Quiseste para nós o melhor do mundo. As melhoras escolas, a melhor formação, as melhores oportunidades, a melhor educação. Sabias onde nos querias e os valores que nos querias transmitir ficaram gravados em nós para todo o sempre.
Tenho tantas saudades dos outros tempos em que ainda conversávamos sobre as nossas vidas! Tenho pena de não te ter dado muito mais abraços quando precisavas. Sabes, a tua grandeza tornava lamechas os gestos de ternura. O teu amor era dedicação, conversas e muito trabalho à mistura.
Grande mãe, grande filha, grande mulher! Tenho um orgulho imenso em ser tua filha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário