O bisavô Américo Alguns dos seus bisnetos
Ontem, dizia o André:
-É incrível mãe. O Chris viveu nos Estados Unidos, no México, no Chile, no Brasil, no Panamá e só estivemos juntos, durante toda a nossa vida, cerca de uma semana mas ele é igualzinho a mim! Tem o mesmo modo de pensar, valoriza as mesmas coisas na vida, ri das mesmas piadas...
E de repente pensei no meu avô Américo e em como ele não é alheio a isto tudo. Deixou-nos há 44 anos. Era o pai da minha mãe e do avô paterno do Chris. Lembro-me bem dele, da sua atenção aos netos e da sua meiguice. Era alfaiate de profissão e um grande homem de cultura. Correspondente do jornal "O Século", na sua casa havia sempre livros e jornais diários onde eu comecei a juntar as primeiras letras. Ficava pela noite dentro a ler e a escrever. A minha avó, mulher prática, eficiente e racional, nunca lhe entendeu totalmente os serões, os silêncios e as motivações. Íntegro, vertical, amigo do seu amigo, líder e com grandes capacidades sociais que treinou durante toda a sua vida. Homem de igreja e de Deus. A sua palavra valia ouro. Gostava do belo e rodeava-se dele. Tinha uma grande casa bem decorada com as paredes coberta de hera, onde eu passava a maior parte do meu tempo e onde me sentia muito bem. Vestia-se bem para a época e tinha uma grande presença. Os sobrinhos disputavam a sua presença, os seus conselhos e as suas ideias. Era muito cativante.
Os filhos sempre o viram como um modelo a seguir. Copiaram-lhe a sede de cultura e a visão de um mundo melhor através da educação e da cultura e por isso cuidaram a instrução dos filhos deles fazendo disso a prioridade das suas vidas. Os netos, adaptaram os ensinamentos aos novos tempos e à realidade das suas vidas. Cortaram alguma severidade no trato e amenizaram com meiguice e atenção desmedida as infâncias dos seus filhos. Mas o essencial do avô que eles conheceram ficou lá: verticalidade, amor à família, compromisso, cumprimento do dever, responsabilidade e por último mas não menos importante um certo olhar boémio sobre a vida e sobre os outros.
Onde quer que estejas avô deves estar feliz!