Sempre viveram longe de mim mas sempre muito perto dos nossos corações. O meu tio, irmão da minha mãe e a tia E., foram sempre uma referência muito grande na minha vida. Identifiquei-me sempre com a sua maneira de pensar, de estar e de ser. O tio viveu toda a sua vida com saudades da família alargada e o tempo que estava connosco era um tempo de qualidade a 100%. Falávamos muito, ríamos muito e a partida era sempre dolorosa. quando o Inverno chegava, tentávamos saber uns dos outros pelo telefone todas as semanas. Sempre os senti perto quando precisei de uma palavra amiga e sempre que houve más notícias dadas pelo telefone chorei como uma criança sem me conseguir conter.
Pouco a pouco, o telefone foi ficando mais silencioso e os telefonemas mais curtos. A voz era a mesma mas, de vez em quando, uma pergunta fora do sítio dava para perceber que o raciocínio, sempre tão alinhado, estava a pregar-lhes partidas que eles tentavam disfarçar. Resolveram que estavam muito velhos para voltar a ver-nos tendo de fazer uma grande viagem. A doença instalou-se lentamente seguindo o caminho triste e negro que percorre a minha mãe há mais tempo e a afasta de nós.
Tenho saudades deles. Muitas mesmo! São parte dos meus ente queridos.
Acordo a pensar neles e numa possível viagem até eles. Um tempo com eles, uma despedida dos tempos que foram e já não voltam. Será que gostavam? Será bom? Serei eu mais um problema que eles já sintam não conseguir ultrapassar sem esforço? Serei uma testemunha do seu declínio que eles não querem que seja?
Gostava tanto de os tornar a ver! Vou mesmo seguir o que o coração me disser como aconselhava o pai sabiamente.