O meu pai era tímido. E muito inteligente. E tinha um amor maior que o mundo pela minha mãe. Um amor calado mas que permitia que lhe concretizasse os grandes sonhos dela mesmo que não fossem os dele.
Quando envelheceu, a grande preocupação era a morte dele e a solidão dela depois. Entregava-se ao cálculo mental todos os dias para que o cérebro se mantivesse activo para que, mesmo que o corpo pedisse descanso, pudesse tomar conta dela e lembrar-lhe tudo aquilo que ela esquecia.
Teve uma vida difícil o meu pai. Sempre senti por ele a falta do carinho com que a mãe e o pai sempre o trataram. Por vezes, apetecia dar-lhe, num só dia, todo o carinho e o amor que ele não tinha tido na infância. Mas ele aliviava esse sentimentos com um humor alegre sobre os factos e as histórias dele tinham sempre um final feliz em que ele se transformava no herói. Magoado, mas herói.
Era duro connosco quando se tratava do futuro. Um dia, no final do jantar, falava-se dos sonhos, do que cada um queria ser quando crescesse. Chegada a minha vez, exclamei orgulhosa do alto dos meus seis, sete anos:
- Eu? Eu quero ser pastora!
Zangou-se! Poderia lá ser! Para nós ele queria o sol!
Mas ser pastora representava, por aquela altura, a liberdade total em comunhão com os campos. E gostava de correr pelos prados, de ir e vir, de inventar histórias sobre os montes que nos rodeavam. Era uma criança sonhadora!
Foi com ele que fui comprar o meu primeiro relógio e foi com ele que escolhi e comprei o meu primeiro anel como oferta da dispensa de um exame.
Do que tenho mais saudades? Do sorriso de triunfo sempre que lhe contava algo da minha vida que ele via como um sucesso. Era tão bom aquele sorriso! Tão gratificante!
Eu sei o quanto ele gostava de mim! O quanto sou parecida com ele. O quanto converso com ele nos meus dias e quantas saudades sinto da sua presença.
O meu pai será para sempre! Para nunca mais abandonar o cantinho do meu coração.
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