segunda-feira, 3 de junho de 2013

Pessoas que eu amo


É irmão da minha mãe mas eu nunca vivi perto dele. Só nas férias de Verão estávamos juntos. Primeiro, de dois em dois anos e depois, anualmente.
Lembro-me dele no meu exame da 4ª classe transportando o lanche delicioso, sempre atento aos pormenores e ao que fazia falta. Dos mimos e da grandeza de ser inteiro e justo com todos.
Lembro-me do amor que ele tinha à mãe. Um amor profundo que se sentia mas não se traduzia por muitos beijos e abraços. Quando a avó já estava muito doente, voou para perto dela. Esteve 15 dias à sua cabeceira e depois partiu com o coração negro, ciente que não mais a veria mas em paz por ter tido todo aquele tempo para lhe dizer adeus. À mãe que tanto sentiu a sua falta em todos os dias da sua ausência.
Lembro-me dos seus gestos contidos de quem não se sente à vontade com grandes manifestações de carinho e da sua atenção permanente ao outro. Já adolescente, pedi-lhe uma determinada raquete de ténis que não existia cá e passado pouco tempo um amigo dele bateu-me à porta com a raquete debaixo do braço. Um pormenor importante: embrulhada numa capa de pele (linda!) que ele tinha feito para a minha raquete nova.
Um dia, fomos passar férias com ele! Foi o tempo de ver ao vivo todos os espaços que viviam só na emoção da memória. Foi o tempo  de passear com ele, de fazer picnics organizados por ele e de conversar com ele. Muito! À sombra da árvore do jardim que entretanto tinha crescido muito e tinha ficado diferente  das fotos a preto e branco dos álbuns lá de casa. Descobrir-lhe a grandeza da alma, a dedicação, o amor à família que embora longe fisicamente permanecia imutável junto do seu coração. 
Fez sempre um esforço por estar presente em todos os momentos marcantes das nossas vidas. Esteve  nas festas dos  meus filhos para quem o tio António é o TIO e nunca se esquece dos seus aniversários, dos momentos importantes, do que faz a diferença na vida deles. 
E como o amor não se mede, só sinto  que o amo muito quando algo lhe acontece e lhe sinto na voz alguma fraqueza disfarçada. É nessas alturas, em que os meus olhos se turvam e a minha voz se entremela, que sinto que  terei muita pena se ele nunca souber o quanto representa na minha vida e o quanto eu gosto dele.
E este post não é mais que uma declaração de amor por quem esteve sempre connosco, embora vivendo longe! 


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