Com grande pena minha, não é da minha autoria! Adorei ler e reler e concordar com tudo o que dizes como sempre foi e será!
Parabéns! Belo texto!
Viajar
Viajar… Ver… voar….
Nos olhos das crianças iniciamos
uma viagem de futuro… e todos os olhos de velhos nos conduzem no sentido
inverso da viagem, a de um passado…. Todos os olhos nos viajam na vida dos seus
donos… há que saber olhar… e essas são
as viagens que todos os dias vamos fazendo.
Viver é uma viagem maravilhosa e
é por isso que as palavras viver e viajar começam ambas com a mesmas duas
letras. Só quem tem a vida presa por um fio pode bem apreciar esta fantástica
viagem.
Esses não podem ver
cuidadosamente as paisagens que se cruzam connosco, as árvores seculares que
nos acenam para a janela e que todas as primaveras e outonos nos contam mais
uma viagem…
Quem dera que a vida fosse eterna
para ter tempo de fazer todas as viagens devagar e todas poder guardar só para
mim, dentro de mim. Não aprecio fotos de viagens nem mesmo as últimas selfies.
Todas as minhas viagens estão dentro de mim e guardo todas as paisagens que me
chamaram desde Vermont aos prados verdes da Polónia de onde me chegaram ecos de
todos os horrores da segunda guerra.
Viajar também é encontrar outras
gentes e outros costumes e descobrir o porquê das variedades, mas …. se nos
soubermos dar, descobrimos que os homens e as mulheres são iguais em todo o
lado. Entregam-se e dão-se do mesmo modo, sofrem pelos mesmos motivos e
rejuvenescem com as mesmas alegrias.
As crianças brincam umas com as outras da mesma maneira e os
velhos são nostálgicos em toda a parte. Às vezes há uns velhos loucos que não
envelhecem da mesma maneira, mas esses só vêm confirmar que a sua viagem foi
talvez um pouco mais rica, quem sabe?
Alguns dias costumo viajar no meu sofá virando as folhas de
algum livro perdido. Então viajo para longe ou perto, para o passado ou para o
futuro ou para dentro desta coisa chamada humanidade e aprendo muito sobre mim
própria e sobre todas as minhas viagens.
Assim vou criando as minhas asas
que me levam em voos planados a viajar sem fronteiras nem tempo. Nestas viagens
nunca esqueço quem colocou e regou dentro do meu peito esta semente que só a curiosidade
e a imaginação podem alimentar. Ah! E a liberdade! A liberdade interior que te
obriga a fazer escolhas e a viajares pela vida à tua volta, dando a mão a quem
não consegue sair do mesmo lugar, porque não teve ninguém que lhe semeasse no
peito a mesma alegria das viagens de todos os dias.
Amanhã, quando o sol se levantar,
partirei numa nova viagem, desta vez para parte certa desta velha europa, onde
espero arquivar dentro de mim um pouco mais que me continue a dar vontade de
todos os dias querer levantar-me tal como o sol.
Como sempre não levarei máquina
fotográfica nem telemóvel, só um novo par de óculos para melhor ver e um
coração aberto a todas as novidades e velhidades que por lá abundam.
Boas viagens interiores, exteriores,
circulares, escritas, ouvidas, filmadas…de qualquer modo registadas e
enriquecidas pelos olhos de quem as vê.