segunda-feira, 5 de outubro de 2020

O que o confinamento trouxe e transformou visto e sentido a longo prazo.



Em Março ficámos em casa. Trabalho com os alunos à distância trouxe novos ritmos, novas aprendizagens feitas à pressa, novos desafios e algumas alegrias. Por entre o trabalho sobrou tempo para cuidar do ninho e voltei, quase sem dar conta, aos tempos da minha adolescência em que tudo se fazia devagar com mãe e avó em casa para que a vida familiar corresse sobre rodas. Voltaram as horas na cozinha, as dicas para lavagem de vidros, a necessidade de manter a casa em ordem sem ninguém para ajudar e tudo à minha responsabilidade. Abriram-se as malas do enxoval amarelecido para tudo ser lavado e branqueado. Recomecei a bordar e a fazer tricot.

Andei atarefada até Julho entre avaliações finais, trabalho de escola, reuniões online e atividades de mulher prendada. Em Agosto saí de casa mas levei comigo os hábitos adquiridos. Nada de maquilhagem, cabelo seco ao sol, roupa comoda que me tinha acompanhado durante estes meses em que quase não vi ninguém. 

Chegou Setembro, as aulas começaram mas, pelo hábito, continuei no mesmo registo. 

De repente parecia que tinha deixado de ser eu e parte de mim tinha ficado perdida lá para trás. Olhava para a minha roupa mais formal e quase já não me lembrava o que combinava com quê e de como eu costumava usá-la. Parecia que não tinha nada para vestir, nada me parecia bem e comecei a ficar meio perdida. 

Uma tarde parei para pensar. Durante umas horas vesti e despi a quantidade absurda de roupa que se espalha por vários armários. Relembrei deste modo o meu eu de antes da pandemia. Guardei uma parte de um armário para colocar as peças já experimentadas e combinadas. Pouco a pouco fui entrando na minha antiga pele. Comecei a ser eu. Deixei a roupa comoda mas pouco elegante e substituí-a pelas peças mais queridas e formais. 

Se estou mais contente? Claro que estou!

Se necessito de comprar roupa nos próximos anos? Claro que não! Necessito apenas de mais umas tardes de ensaios de estilo e de renovação. 

O curioso disto tudo é verificar que todas estas mudanças necessitaram de muito tempo para serem percepcionadas e alteradas. 

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