segunda-feira, 24 de março de 2025

Conversas com a minha adolescente interior

 


Quando era adolescente, passei alguns períodos de tempo sozinha o que não foi, de todo, favorável à minha psique e à minha auto estima.  Naquele tempo, nunca ninguém tinha tempo para pensar nestas consequências, era a vida, as circunstâncias e pronto! Comecei a ter ataques de pânico sem lhes saber o nome, que só acalmavam quando ia dormir a casa da amiga que vivia a umas ruas da minha casa. Alimentava-me pessimamente. Tinha preguiça de fazer almoços e jantares e comia o que aparecia. Muito mau mesmo. Achava-me feia, sem graça e sem atitude. Disfarçava tudo o que podia mas não era o suficiente. 

Acompanhava aos fins de semana os meus irmãos em festas e convívios mas, quando se iniciava a semana, a solidão instalava-se. Tudo escrito nos meus caderninhos que me foram servindo de catarse. 

Tornei-me muito sensível à crítica e considerava que todos eram merecedores, menos eu. Quando entrei num curso universitário que detestava e que escolhi mais ou menos à sorte por falta de ajuda e por estar sozinha, complicou-se tudo. Sabia que tinha de caminhar para a frente e assim fiz. Encontrei um caminho paralelo na via educacional que me trouxe muitas alegrias. Tive sorte. 

Esse tempo, ainda bem vivo dentro de mim, trouxe-me tanta mas tanta insegurança que foi a minha maior batalha ao longo destes anos. Hoje sinto-me livre, sei o que quero, o que é importante, o que dispenso, o que vale a pena. Tenho pena de não ter tido esta atitude muitos anos mais cedo na minha vida. 

Olho para fotos antigas  e vejo uma mulher jovem e bonita. Não era isso o  que  espelho me dava. Não lutava por nada porque me sentia, à partida, derrotada por todos os outros, muito mais brilhantes, capazes e merecedores. 

Quando olho e falo com a minha adolescente interior, agradeço o ter-me livrado desta carapaça negra que me enevoou anos tão importantes. 

É o que é, como costuma dizer filho mais velho. 

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