terça-feira, 13 de outubro de 2009

Observado... com pudor


Ele deitado, encurvado e triste, numa cama de hospital. Ela chegou e puxou lentamente uma cadeira para junto dele, pegou-lhe na mão e olhou-o nos olhos com uma coragem do tamanho do mundo. E falou baixinho e meigamente do alto dos seus oitenta e tal anos para o companheiro de uma vida. E ele ouviu-a como certamente fez sempre no recato de um lar. Ali ficaram os dois ligados por uma incapacidade física e uma força de sentimentos enternecedora. Lentamente a mão enrugada dela avançou e afagou a perna dele por baixo dos lençóis. Quase se sentia o aconchego que fez aquela mão, carne com carne no final de uma vida.
No final da tarde, levantou-se, tornou a olhá-lo profundamente e com palavras fez recuar as lágrimas que assomavam nos seus olhos. À porta do quarto deitou-lhe um último olhar e desapareceu e o corpo dele encurvou-se ainda mais sobre si próprio.

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