Somos passageiros – do infinito
A
vida, como um comboio, leva-nos a muitos lugares, tempos, razões e
sentimentos. Cada um de nós entrou numa estação e noutra, que
desconhece, terá de sair. Vemos muita gente embarcar e desembarcar.
O caminho é sempre único, mas as belezas do mundo são comuns.
Algumas estão nas paisagens dos dias e noites que vivemos, outras no
interior do comboio: os passageiros que partilham connosco partes da
viagem... e ainda há a maior de todas as belezas: a do mundo que cresce
dentro de cada um de nós. A maravilha de ser, ter e sentir um coração
que cresce só porque pode recolher um pouco de cada canto que há no
mundo.
Muitos imaginam a felicidade como um sossego onde o prazer é
permanente, mas a verdade é que temos de ser nós a lutar contra os
desejos que nos inquietam e destroem a paz, aqueles que concretizados
satisfazem, mas logo um vazio maior se apodera da alma… Importa
aprender a distinguir as boas inquietações, que nos levam a superar os
nossos limites, dos desassossegos que apenas nos destroem, porque nos
fazem fúteis e caprichosos. Há bons prazeres e boas dores…
Ser feliz não é estar acima das nuvens. Não é um comboio especial
ou uma carruagem de primeira classe. Não é, sequer, uma estação. Ser
feliz é aprender a aceitar a viagem, tal como ela é, de coração
aberto...
Ser feliz é ser um pedaço belo de mundo que não perde o brilho da
sua harmonia, apesar de todos os acidentes do caminho, apesar dos
invernos que parecem não ter fim... e, até, das tempestades que vêm
sempre com vontade de arrancar as árvores pela raiz e o nosso comboio
dos carris...
Talvez ser feliz passe pela capacidade de deixar um pouco de si em cada canto que há no mundo.
Viver é poder sentir de perto muitas lonjuras... ser feliz é fazer-se próximo e encontrar forma de ficar sempre ali.
A felicidade, como a vida, não é um momento, é uma viagem sem regresso, uma aventura sem fim.
José Luís Nunes Martins