quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Para recomeçar

Somos passageiros – do infinito

A vida, como um comboio, leva-nos a muitos lugares, tempos, razões e sentimentos. Cada um de nós entrou numa estação e noutra, que desconhece, terá de sair. Vemos muita gente embarcar e desembarcar.
O caminho é sempre único, mas as belezas do mundo são comuns. Algumas estão nas paisagens dos dias e noites que vivemos, outras no interior do comboio: os passageiros que partilham connosco partes da viagem... e ainda há a maior de todas as belezas: a do mundo que cresce dentro de cada um de nós. A maravilha de ser, ter e sentir um coração que cresce só porque pode recolher um pouco de cada canto que há no mundo.
Muitos imaginam a felicidade como um sossego onde o prazer é permanente, mas a verdade é que temos de ser nós a lutar contra os desejos que nos inquietam e destroem a paz, aqueles que concretizados satisfazem, mas logo um vazio maior se apodera da alma… Importa aprender a distinguir as boas inquietações, que nos levam a superar os nossos limites, dos desassossegos que apenas nos destroem, porque nos fazem fúteis e caprichosos. Há bons prazeres e boas dores…
Ser feliz não é estar acima das nuvens. Não é um comboio especial ou uma carruagem de primeira classe. Não é, sequer, uma estação. Ser feliz é aprender a aceitar a viagem, tal como ela é, de coração aberto...
Ser feliz é ser um pedaço belo de mundo que não perde o brilho da sua harmonia, apesar de todos os acidentes do caminho, apesar dos invernos que parecem não ter fim... e, até, das tempestades que vêm sempre com vontade de arrancar as árvores pela raiz e o nosso comboio dos carris...
Talvez ser feliz passe pela capacidade de deixar um pouco de si em cada canto que há no mundo.
Viver é poder sentir de perto muitas lonjuras... ser feliz é fazer-se próximo e encontrar forma de ficar sempre ali.
A felicidade, como a vida, não é um momento, é uma viagem sem regresso, uma aventura sem fim. 

José Luís Nunes Martins

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