A dada altura percebemos que o mais importante não é saber se a vida é bela ou trágica, se, feitas as contas,ela não passa de uma paixão irrisória ou se a cada momento se revela uma empresa sublime.Certamente está-nos reservada a possibilidade de tomá-la em cada um desses modos, só distantes e contraditórios na aparência. A mistura de verdade e sofrimento, de pura alegria e cansaço, de amor e solidão que no seu fundo misterioso a vida é, há-de aparecer-nos nas suas diversas faces. Se as soubermos acolher, com a força interior que pudermos, essas representarão para nós o privilégio de outros tantos caminhos. Mas o mais importante nem é isso, aprendemos depois. Importante mesmo é saber, com uma daquelas certezas que brotam inegociáveis do fundo da própria alma , se estamos dispostos a amar a vida como esta se apresenta.
José Tolentino Mendonça - A mística do instante - página 111