segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Fim de semana de ir ver a mãe


Devia ser proibido as mães partirem aos pouquinhos, escaparem-se por entre as memórias ainda tão vivas e ficarem assim, olhar mortiço a olhar para mim sem me conhecer. Devia ser proibido sentir como eu sinto naquela sala cheia de vidas a acabarem-se por entre andarilhos, gemidos ou só silêncios consentidos. Devia ser proibido ter uma mãe que já não me acolhe, que já não fica contente com a minha chegada nem se entristece com a minha ida. Devia ser proibido, assistir à decadência de quem tanto admirei, com quem tanto conversei, de quem tanto me exigiu e, talvez por isso, de quem me fez o que sou hoje.
Nas alturas de Natal, custa mais! Sentimos de uma forma brutal a finitude da vida, de tudo isto que consideramos tão importante, das certezas que temos enquanto seres humanos! Basta somente a demência para varrer o orgulho, o saber fazer tudo bem feito, a superioridade com que alguns se passeiam por este mundo. É só uma demência que aparece sorrateira, lenta mas eficaz e nos retira tudo. 
Resta-me o consolo dos seus mimos há muito tempo. Do seu sorriso. Da sua superioridade moral que essa sim é importante!
Querida mãe!

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