terça-feira, 1 de maio de 2018

Emaranhado de sentimentos


Deixei novamente a mãe! Estive com ela! Deixei-a e ela não olhou para trás porque quando desapareço ela esquece imediatamente a minha presença. Aliviada por um lado porque é mais fácil para ela mas, para mim, continua a ser muito duro. Longe vai o tempo em que os dois vinham até ao cimo da rua a acenar aos netos até desaparecermos na curva da estrada. Tudo me lembra agora. Gestos tão naturais antigamente e que nunca mais se repetirão!
Conversas do passado que se transformam em conversas do presente como se todos os seres amados ainda por ali andassem e interagissem connosco. Só assim ela  se acalma, só assim a vida dela faz sentido porque os dias dela são lá atrás quando não tinha ainda filhos.
Falei-lhe no filme que descobrimos dela com 18 anos a dançar no rancho e ela riu-se! Talvez se estivesse a ver naquela altura, quem sabe.
E eu: tu não sabias mesmo dançar mãe. Por isso é que no final levavas a bandeira!!
E ela a rir-se: Pois não, não sabia e não gostava!
Depois perguntou pelo marido! Querido Pai! Não fui capaz de lhe dizer que tinha falecido já lá vão 8 anos. Vou inventando as histórias, baseando-me naquilo que acompanhei e que sei e ela vai aquietando.
Necessito destes momentos com ela. Apesar dos olhos encovados, das mãos encolhidas, da falta de memória, sempre posso chegar a minha cara à dela, dar-lhe beijinhos, meter as mãos dela nas minhas e senti-la quente. Aconchegar-lhe a manta e sentir que são momentos únicos, só meus e dela que ficarão comigo para sempre.
Anoitece! Estará a deitar-se neste momento. Eu? Já lá não estou!