terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Confinamento e solidão

 


Hoje acordei assim. Uma solidão cinzenta tomou conta de mim! Tanto trabalho ainda para realizar e tão pouca vontade. 

Os últimos tempos têm sido muito duros. Aulas e casa. Casa e aulas. Não havia mais nada. Agora deixou de haver aulas. Ficou só a casa. 

Na escola, deixámos de conviver como nos ensinaram ao longo destes anos todos. Distância física e distância emocional. Soube, quase depois de um mês, que o pai de uma grande amiga estava internado!

Não sei de ninguém nem ninguém sabe de mim! Ontem, fui dar uma volta a pé pela cidade! Encontrei cerca de três pessoas. Cidade deserta com as luzes amareladas a refletirem a escuridão.

Sim, posso tratar de mim, fazer máscaras exfoliantes, colocar cremes, fazer tudo aquilo para que se necessita tempo. Falta apenas a vontade.

O melhor programa neste momento seria ficar na cama todo o dia entre lençóis fofos e com a cabeça vazia sem pensar em absolutamente nada que me perturbe a alma.

Não há uma notícia boa, não há um sorriso sincero, não há abraços. 

Há solidão! Muito farta disto tudo!

Não tenho razão? Talvez não!

Tenho uma vida boa e comida em casa? É verdade que sim.

Hoje é um dia mau!


quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Hoje, depois de saírem da aula, vi-os ao fundo do corredor e tive saudades deles

 


Última aula presencial já depois de saber que amanhã já não estaremos juntos. Metade dos alunos não estava presente. Os pais consideraram mais seguro deixá-los em casa. Nada contra. 

Falámos do que nos esperava. Estavam alegres. Eram só 15 dias.

Saíram e em passos apressados chegaram ao fundo do corredor. Vi-os desaparecer na curva e o corredor ficou vazio.

Tive saudades antecipadas deles! Até quando continuaremos separados?

Tenho por eles grande carinho pelo que são, pelo que conseguem expressar, pelas suas vidas algo difíceis e que constroem com dificuldade mas sempre com um sorriso e pelos três anos de convívio e de aprendizagem.

A Escola são os alunos. Ponto!

domingo, 17 de janeiro de 2021

A melhor coisa que me podem oferecer?

 


Uma vídeochamada com a minha neta Maria. Quando dou por mim estou a rir sem saber porquê! Pelo serão adiante vou-me lembrando das conversas e continuo a rir sozinha.

-Sabes a história da Branca de neve e dos sete anões?

-Sei vovó.

.Mas sabes que agora já são só seis porque o atchim está em isolamento profiláctico!

- Mas vovó ele pode tomar a vacina e depois já fica bom!

-Pois mas até ficar bom são só seis anões!

- Pois é vovó!

E eu a rir sem saber porquê, olhando para aquelas bochechinhas coradas e para aquela carinha tão meiguinha a dizer: eu ainda não sei escrever muito! 

-Claro que não minha querida! Tens 4 anos! Tens é de ser feliz e esperar que o tempo passe. Devagarinho para eu continuar a amar esse coração tão puro e tão lindo!


O melhor da Escola são mesmo os alunos

 


Este ano tenho pelo terceiro ano os mesmos alunos. Sinto como se já me pertencessem um pouco. O ambiente de aula é muito agradável e, pouco a pouco, vamos entrando na vida uns dos outros, confidência aqui, confidência ali, vamos conhecendo o  dia a dia, os  hábitos e como vivemos. Ficam por vezes comigo na sala de aula no intervalo em conversas engraçadas. 

As actuais prendem-se com o exercício físico:

-Ó professora não pode só dizer que é preciso fazer exercício físico para nos mantermos saudáveis! Tem de dar o exemplo!

- Ainda não a vi no campo de paddle e disse que ia começar!

-Professora não é necessário ir todos os dias. Comece devagarinho. Olhe pode até começar a jogar com o meu pai que é viciado e está lá sempre.

-Professora tem mesmo de começar não basta ter a raquete e as bolas em casa!

Não me bastava um filho pelo telefone, agora tenho os alunos com o mesmo discurso.

E tem de ser mesmo! Agora os campos fecharam. Trilhos na serra são a solução aos fins de semana. Ar puro e caminho a direito. 

Queridos alunos. Vou ter saudades deles!


sábado, 16 de janeiro de 2021

Detesto pessoas que são do contra!

 


Aquele género de pessoas que mal se abre a boca salta imediatamente para dizer que não é nada disso que está tudo errado, que são todos uns ignorantes, que não pensam, blá, blá, blá.

Deste modo o diálogo ou a conversa alargada acaba logo ali. Para quê dialogar com quem está de mal com o mundo tal como ele é, com coisas mesmo muito boas que é necessário aproveitar e com coisas algo más que é necessário diminuir, relativizar, sorrir e seguir em frente.

Com a minha idade, azedumes contra a vida e os Homens, já não são a minha praia! 

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

O que fica de nós quando nos vamos

 


Hoje falou-se no meu pai. No que ele era e como está cada vez mais presente nas nossas vidas e nas nossas mentes. O que eu admirava mesmo nele? Aquilo que eu também sou!

Gostava dos bons momentos da vida. De desfrutar  do que gostava como um bom almoço num restaurante do seu agrado, de tudo o que era novo e que adquiria mesmo que, algumas das vezes, o fizesse com algum sacrifício. Logo que apareceu a televisão a cores ele comprou. Lembro-me das tias velhas que vieram lá a casa ver a novidade e uma delas ter afirmado categórica: parece-me que gostava mais da de preto e branco!!

Quando resolvemos ir viver para Coimbra, minha mãe queria comprar uma casa velha para remodelar. Meu pai passou um fim de semana com ela a ver casas a precisarem de grandes reformas, em sítios pouco simpáticos. Ao terceiro dia declarou: acabou-se. Quero uma casa nova.

Comprou-a e foi uma festa a sua estreia. Estava feliz. E eu com ele. Tão bom ter uma casa novinha a estrear em 1972. Foram bons tempos aqueles!

E foi mesmo o que ficou dele: o gostar de festejar, a alma inquieta perante as novidades, o riso franco quando tudo parecia ir mal, a inteligência superior perante a vida e as situações.

Continuo a conversar muito com ele em pensamento e adivinho o que me diria a alguns dos meus dilemas atuais. Tudo isto, preferencialmente à frente de um belo polvo à lagareiro, seu prato preferido, num dos seus restaurantes preferidos.

Querido Pai!



terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Os dias que são feitos com bocadinhos do meu coração


Começou com a voz de filho mais velho e continuou com um pedacinho encolhido  pela minha neta Clarinha. Continuou com mensagens e telefonemas que oram apertavam, ora alargavam o meu órgão vital. 

Acabou no médico, lá pelo final da tarde, porque uma ferida, provavelmente iniciada com um saco de água quente numa noite de serra, resolveu infectar. Não mexeu com o meu coração porque tenho este órgão reservado apenas para as alegrias e para as tristezas mais puras. 

Amanhã será outro dia, cheio de oportunidades, de alegrias, adaptações, resoluções e acima de tudo... aceitação. Porque a vida nem sempre é o que imaginamos. Temos é de adaptar o que imaginámos ao que temos e dar-lhe todo o sentido do mundo. 

Até amanhã.

domingo, 3 de janeiro de 2021

Coisas que nos inspiram

 


Quando se gosta da VIDA...

gosta-se do passado, porque  ele é o presente tal como sobreviveu na memória humana.

Marguerite Yourcenar