sábado, 1 de fevereiro de 2025

A Lena partiu.

 


Foi ama dos meus filhos, amiga, família, confidente e uma das melhores pessoas que conheci. Partiu serena como ela era. Tinha 90 anos.

Vivia em frente da minha antiga casa, do outro lado da rua e, quando filho mais velho tinha 3 meses, foi para lá sempre que eu ia trabalhar. 

Os meus dois filhos foram para  a escola quase a fazer 4 anos depois de terem passado os melhores anos da vida deles junto à Lena e ao Quim que os mimavam até mais não. Nunca  queriam voltar para casa  e, muitas vezes, fui buscá-los mais tarde porque a brincadeira ainda ia a meio. Quando estavam doentes ficavam na Lena e eu partia descansadíssima para a escola porque os deixava em muito boas mãos. Um cuidado extremo, uma doçura de trato, um bem fazer, que ainda hoje está na memória de todos. Quando saiu o último, de mansinho, disse-me: se quiser ter a menina que lhe falta, eu ainda a crio! 

Partiu com tudo o que falámos e desabafei  porque, tenho a certeza, nunca contou a ninguém. Quando ia visitá-la era ainda um porto de abrigo, ouvia, dava a sua opinião e sorria. Mulher sólida de princípios, de bem fazer, de carinho, de família. 

Há um mês fui vê-la e, quando saí pela porta da cozinha por onde tantas vezes entrei, vi-a e percebi que era um adeus. Olhei para trás várias vezes e ela ali estava à porta com o seu sorriso doce. Virei a esquina e chorei.

Ontem, senti que se fechou um ciclo. Já estava quase encerrado mas a sua morte deu a volta à chave.

No funeral, o padre referiu que cada um de nós devia escolher alguma das qualidades dela e levá-la para a sua própria vida honrando assim a sua memória. Eu já escolhi!

Até um dia querida Amiga.

Ficou a saudade e um grande vazio! 

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