domingo, 11 de dezembro de 2011

Coisas que penso


Há grandes diferenças no modo de sentir a crise na geração dos 30 anos e na geração dos 50 anos.
A geração que tem 50 ou mais anos viveu a infância no tempo do estado novo. Adora ver a série "conta-me como foi" e aproveita para dizer aos filhos:
-Vês, no meu tempo, neste tempo é que era!
Tem, em segredo, grande saudade do leite à porta em garrafa de vidro, do saquinho do pão quente pendurado na grade da porta logo pela manhã, do cheiro das compotas de Setembro, dos piqueniques, das idas ao mercado no sábado de manhã, da planificação semanal das refeições, do aproveitamento dos restos que se transformavam em refeições deliciosas, dos bolos feitos em casa, das lições de economia doméstica dadas pelas mães e avós que viviam, nesses tempos, felizes com a família e tinham as suas tarefas bem delimitadas, das idas à feira, do orçamento apertado, da alegria quando havia direito a algum extra e acima de tudo, misturada com estas recordações, uma grande nostalgia da infância. Sente estes tempos como uma oportunidade de vivê-la novamente assumindo as mesmas rotinas e abrandando ao ritmo das estações. Reagem, inventam novas rotinas, relembram outros modos de fazer as coisas, bem patente esta semana, numa reunião em que estive, onde se lamentou a crise mas logo se trocaram truques, modos de poupança, oportunidades, receitas infalíveis... Fez-me lembrar a minha mãe, a D. Maria governanta, e muitas outras de outros tempos! Muito!
A geração de 30, nunca viveu nada disto! Foi criada em tempos de fartura, de shoppings centers, de idas à praia a toda a hora e não só em Agosto, de almoços em esplanadas, das festas nos restaurantes, do fast food e da fast life. Para ela, estas mudanças não são mais que uma grande seca! Como se poderá ser feliz sem o carro novo e lustroso, sem as férias na neve e as outras, as grandes, em locais exóticos onde não há tristeza? O que contar, do que falar, como se afirmar nestes tempos conturbados?
Nem sempre é mau ser mais velho!

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