segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Coisas que só alguém com mais de 50 anos pode entender!!


Hoje, já no final da tarde, um grupo de colegas falava sobre as suas infâncias passadas no estado novo em aldeias distintas do país. Eu na Serra da Estrela, outra colega em Trás-os-montes e outra ainda no centro do País.
O que era ser criança naquela altura! Uma aventura!!
Eu contava de todos os velórios a que assisti, de um deles em que se velava um corpo mirradinho e entrevado com os joelhos encolhidos de anos de cama e do meu grande problema de como se conseguiria fechar a urna. E de como eu perguntei depois do funeral:
- Como é que conseguiram fechar a urna?
 Veio a resposta seca:
- Partiram-lhe as pernas!
E das colegas de escola que morriam com doenças banais, hoje em dia, como  apendicite e em que toda a classe acompanhava o caixão branco transportando florinhas.
E da chegada dos soldados mortos no ultramar, das mães que vinham esperar a urna à entrada da aldeia e dos seus gritos lancinantes. E do som dos tiros no silêncio do cemitério misturado com gritos de revolta. 
E das brincadeiras perigosas com 5 ou 6 anos como fazer almoços e jantares sozinhos em casa, mexendo em óleo fervente para fazer batatas fritas e saltando por cima dos telhados  andando de telhado em telhado.
E os lobos de que tínhamos tanto medo. Uma delas contou que viu um e o pai lhe recomendou para não olhar e continuar andando e ela assim fez!! E das histórias de um tal eremita de que apareceram só os pés dentro das botas, todo o resto comido por alcateias famintas na neve do Inverno.
E o grito dos porcos nas madrugadas de Dezembro a morrer às mãos dos homens. Ainda hoje sonho com isso de vez em quando! E do medo que eu tinha de todos os porcos.
E perante a interrogação e o espanto colectivos de como não ficámos traumatizadas para o resto dos nossos dias perante tais vivências, uma das colegas, com um sentido de humor engraçado comentou:
-Eu até uma autopsia vi!!
-?????!!!!!! Como????
Um dia um miúdo foi atropelado na aldeia e morreu. Chegou o médico para fazer a autópsia que se realizava na pedra do cemitério onde se colocam as urnas para a última oração. Andavam por ali umas  crianças que assistiram ao trabalho meticuloso do médico sem que ninguém as mandasse embora!!!! E dizia ela:
- Ainda hoje vejo as mãos do médico meticulosamente a cortar-lhe a fronte!
É um post tremendo este! Mas a infância rural de quem tem agora mais de 50 anos é cheia destes episódios macabros mas que nesta altura da vida são hilariantes para contar aos netos betinhos e nos transformar em heroínas de fábulas passadas há muito, mas mesmo muito tempo!
Perante este pequeno resumo percebe-se o título do post. Só alguém com mais de 50 anos pode perceber o que escrevo. Sem drama porque era assim e ponto final!

Nenhum comentário: