segunda-feira, 9 de junho de 2014

A MÃE faz anos


Quase nunca se lembra! Falamos ao telefone e ela divaga para outros assuntos "bengala" que o cérebro ainda recorda para que consiga disfarçar a névoa que lhe rouba os pormenores dos dias. Não sabe o que comeu ao almoço, nem se houve sobremesa ou bolo de aniversário. Riu-se comigo e imaginei o seu ar infantil que ultimamente acompanha todos os seus actos erráticos sem saber onde está.
Perguntou muita coisa e as minhas respostas perderam-se imediatamente no labirinto cerebral de quem já não consegue reter o tempo ou o espaço.
Vamo-nos habituando, se alguma vez alguém se conseguir habituar a esta perda progressiva, lenta e dolorosa que nos levará a mãe para um limbo de onde não sairá. 
Está bonita, elegante como ela sempre desejou estar e nota-se que isso a deixa contente. De vez em quando um lampejo de lucidez alegra-nos o coração! Parece que voltou, que é a mãe que conhecemos, que vai  argumentar, perguntar,  conversar. Mas não! Rapidamente volta a confusão do "onde estamos?" e a tristeza volta.
Tempos difíceis que há que aceitar.
Parabéns minha mãe!

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