quarta-feira, 22 de julho de 2020

Nunca temos ideia e um dia caímos na realidade

Na festa dos 18 anos de filho mais novo

Tenho muitas saudades deles! Eram os meus tios da América! Aqueles que sabia que gostavam muito de nós e que mesmo longe estavam sempre presentes. A sua vinda, ultimamente todos os anos, era uma alegria e a sua despedida colocava-me sempre um nó na garganta. Durante o seu tempo por cá todos fazíamos o possível e o impossível para estar com eles entre grandes almoços e conversas longas pela tarde fora. 
Quando o soube doente, há uns anos atrás, chorei ao telefone, sem conseguir disfarçar a dor que senti. Recuperou e voltou a vir ver-nos porque a alma essa sempre foi nossa.  Depois foi a vez da tia, já mais tarde,  superar  as fragilidades da vida.
Tínhamos grandes conversas ao telefone, falávamos da vida, dos filhos, dos projectos, dos pormenores que os faziam sentir mais perto e nunca havia pressa para desligar. Vê-los com os meus pais era muito gratificante porque os unia um amor muito forte. O tio é muito parecido com a minha mãe, física e psicologicamente, ou não fossem irmãos e o declínio dela foi, durante muito tempo, um grande sofrimento para ele.
Ficaram mais velhos, mais tristes e deixaram de viajar. Por vezes, telefonam e a tia pergunta como se chamam os meus filhos e eu respondo como se fosse normal ela não saber! Quando a confusão se torna visível, despedem-se como que a pedir desculpa e eu compreendo a sua altivez moral que é necessário preservar.
Por um tempo, antes da pandemia, pensei insistentemente em ir vê-los e estar com eles. Ansiava o tempo certo para partir. Depois, com isto tudo, percebi que não há tempos certos e que devemos partir sempre que o coração manda. 
Tenho medo de não os tornar a ver! Tenho pena de não ter ido, mesmo no tempo errado. 
Prisioneiros das suas fragilidades e da idade, vivem na mesma casa, onde um dia aterrámos com os filhos ainda pequenos para passar 5 semanas de grande felicidade. Já não existe a mesa do jardim e o Verão já não é passado à sombra da árvore mas ainda oiço a alegria dos meus filhos a correr na relva do jardim dos tios. 
Está a ser difícil esta realidade!

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