segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Histórias de amor

 


Os meus pais eram pessoas muito diferentes um do outro mas amaram-se muito durante toda  a vida. Eram ainda primos e tinham as mesmas raízes. A minha mãe foi educada com mais esmero por uma mãe que não deixava nada ao acaso e o meu avô velava pelos bons costumes normalmente, nesse tempos, ligados à religião. Era um homem do regime como se dizia nessa altura.

O meu pai tinha mais irmãos, eram três rapazes com pouca diferença de idade, bonitos e que gostavam de viver a vida. Os pais não se preocupavam muito com a sua educação desde que trabalhassem e ajudassem no amealhar da casa que se queria farta. Gestos de carinho não existiam e minha avó paterna delegava totalmente a educação  dos filhos homens na figura paterna.

Mesma família ancestral, padrões educativos completamente diferentes.

Meu pai reparou na minha mãe muito cedo. Aparecia-lhe aos caminhos tentando falar com ela, fazer parte do caminho em conjunto mas ela, aparentemente, não correspondia. Tinha outros pretendentes e um deles aprendia a arte da alfaiataria em casa de meu avô. Ciúmes terríveis apoderavam-se do meu pai, principalmente quando soube que haveria uma representação de uma peça teatral onde minha mãe e o pretendente participavam. Meu pai ofereceu-se para montar o palco e, como pagamento, só queria um bilhete para assistir. 

O palco ficou bonito e na noite da representação quem controlava as entradas era o pretendente que, fazendo-se de desentendido, lhe disse que não tendo dinheiro nem bilhete não poderia assistir. Tentou mas não conseguiu. Regressou a casa furioso. Já no quarto, olhou para os fios eléctricos que lhe passavam perto da varanda. Uma ideia macabra tomou conta dele. Com um objecto não condutor, puxou com força os cabos até partirem e deixar toda a aldeia às escuras!

Saiu de casa e veio para o adro da aldeia ouvir todas as vozes de desilusão dos assistentes que voltavam a casa sem assistir à sessão.

Sentiu-se vingado. Não representou para mim, também não representou para mais ninguém. 

O que ele se ria, durante toda  vida, sempre que contava esta proeza!

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