Sou obcecada por casas, por ambientes, por pormenores. Tenho recordações muito longínquas de pormenores das casas que vivi - o cheiro da casa das vizinhas, o pormenor do candeeiro da sala dos avós maternos, o desconforto e o frio que sentia em casa dos avós paternos, as cadeiras americanas ( brancas, lindas, modernas) da cozinha da tia Isaura, o conforto e a maciez do sofá branco da casa da prima Lili, os aparadores com prateleiras de vidro, carregados de loiça bonita da casa do Padre Samuel que só saíam em jantares especiais, a cor do fogo das diferentes casas por onde circulava pelo fim da tarde numa liberdade que só as aldeias permitiam. Desde pequena que sinto curiosidade por janelas que deixam antever a intimidade de outras vidas.
Gosto de viver em casas emprestadas e vestir por dias as rotinas de outras famílias. O modo como se decora e organiza a casa revela um pouco a nossa personalidade. Gosto dessa diferença e de aprender outros modos de viver e de estar.
Gosto da imperfeição das casas que evidenciam a imperfeição de quem lá vive!
Gosto destes espaços afectivos como telas brancas onde vamos escrevendo a história da família.
Gosto de criar nos meus filhos recordações das casas por onde andámos.
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