Nunca consigo dizer - vou embora, adeus. Dou muitos beijinhos e digo-lhe que volto logo a seguir contando que a demência dela lhe apague a espera de me voltar a ver rapidamente.
À porta, volto-me para a olhar uma última vez e ela lá fica sentada, manta nos joelhos, olhar parado já de quem não me espera.
Disse-me que queria ver a mãe, que tinha saudades dela, como é que ela andava e eu respondi que bem, que estava magrita como sempre fora mas bem disposta. E ela sorriu e voltou a repetir que a queria ver. E eu respondi que a traria lá quando o tempo estivesse menos frio para não apanhar frio!
Querida avó que faleceu tinha eu 22 anos e ainda hoje (também eu) tenho saudades dela e do sorriso dela.
Está diferente a minha mãe. Os filtros sociais, tão importante para ela durante todos os anos em que a conheci foram-se e agora diz o que lhe apetece. Fico chocada! Mas no fundo de mim própria, não fosse eu estar a perdê-la como era, torna-se cómico! A mãe a dizer o que pensa, bem alto não se importando com o que os outros pensam!
Meto-me no carro e o frio da serra parece que enregela o meu coração. Estrada abaixo em silêncio pensando nos outros tempos em que éramos todos e quase não dávamos valor a isso!
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