segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Festas de família


Casamento de um primo no sábado. 
Do que eu gosto mesmo? De poder conversar com a família que pouco vejo. Rever afectos, trocar impressões, combinar novos encontros e deixar-me surpreender por comportamentos pouco usuais. 
Noite dentro a pensar nestes encontros e no que eles representam para mim. 
O que mais gostei? A conversa longa com o primo L. sobre a ida dele para a França "a Salto" como se dizia, as agruras da viagem e a amargura da chegada a uma cidade luz cheia de trevas! 
Não se despediu de ninguém porque o único proprietário agrícola da aldeia que empregava muita gente, já a ficar sem trabalhadores, se soubesse, telefonava para a GNR e eram apanhados. Uma hora antes de partir foi a casa do meu avô dar-lhe um abraço de despedida porque o estimava muito.  Apareceu por lá o meu pai que na altura era o patrão dele e só foi capaz de lhe dizer - Se amanhã não aparecer no trabalho, já sabes! E o meu pai percebeu!
Saiu sozinho para o encontro com o passador, à meia noite em cima da ponte da aldeia vizinha, deixando a mulher com a filha pequena  e com uma amargura do tamanho do mundo.
Chegado lá, eram mais quatro companheiros dos bancos da escola. Nenhum sabia dos outros. Noites longas e frias nos Pirenéus, dez dias de viagem, sempre de noite, sempre com medo de alguém os ver e os obrigar a voltar para a aldeia. Paris chegou na pessoa de um conhecido que vivia numa barraca. Quando os viu, ficou estarrecido! Onde metê-los, como ajudá-los, num ambiente onde já havia tão pouco? Ficaram os cinco numa barraca e no dia seguinte arranjaram trabalho. A partir daqui, começou o caminho para uma vida melhor! Que correu muito bem!
A luta por uma vida melhor, os encontros e os sucessos e, no final da conversa, o remate:
-Não foi um el dorado! Foi preciso trabalhar muito e humilhar-me muito!
Vidas cheias  que lembram, mais uma vez, que a vida do Homem só vale a pena quando se   aventura nesta necessidade de se superar a ele próprio e às suas certezas. Grandezas da alma que sempre me emocionam.
Coisas que vão esquecendo mas que ele conserva na memória  para partilhar. Gostei muito de o escutar!!

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