Nunca passo por estes "janelos" (chamavam-se assim) sem me enternecer e me lembrar do sentimento bom que era fundir-me com a parede e por ali ficar a ouvir as conversas que se passavam do lado de dentro!
Conheço de cor todos os janelos de aldeia e ainda hoje me lembro em que divisão da casa se situavam. Lembro-me de um que ficava quase no tecto da cozinha e por onde eu ouvia as conversas da ceia e acompanhava a refeição sem que alguém se lembrasse de olhar para lá.
Outros, permitiam partilhar o descanso de pais e filhos sentados em bancos toscos à lareira contando o dia. Lembro-me da pouca mobília, sinto o cheiro a fumo que se desprendia e ainda vejo as varas do enchido que, muitas vezes, ocultavam pormenores importantes à observadora!
Que é que eu fazia com esta informação roubada à intimidade? Nada! Era só porque tinha piada e era criança!
O outro dia, em passeio com a mãe pela aldeia, contei-lhe a diabrura da escuta da vida alheia!
Admirou-se e escandalizou-se! A escutar? E ficavas lá muito tempo? Sim, o tempo todo que podia!
CUSCA!
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