A hipótese de não ter despertador no dia seguinte faz uma mulher feliz.
Ainda muita coisa para concluir porque a segunda aproxima-se a passos largos e uma semana infernal espera-me. Muitas tarefas ainda para amanhã. Hoje já não consegui.
Ando cansada. Talvez um pouco triste também. As tarefas custam mais a concretizar e o meu poder de concentração também não me ajudou.
Solução: focar no positivo, nas coisas boas e alegres, nos projectos que tenho ainda para concretizar e na esperança de que os problemas de saúde de alguém próximo se resolvam da melhor forma.
A nossa vida vai mudando a um ritmo rápido e, de repente, damos conta que estamos muito mais pobres. O meu pai partiu, a minha mãe já não consegue tomar conta dela, os meus tios estão diferentes, mais velhos e sem a vitalidade com que sempre os conheci. Foi-se, sem darmos conta, o tempo das festas e dos reencontros, a alegria, os almoços de Verão, todos juntos, de que o meu pai tanto gostava.
De um momento para o outro, o caminho que fazia todos os 15 dias para casa dos pais em Coimbra deixou de me ser familiar. A casa deixou de ser um pouco o meu refúgio de fim de semana, o espaço acolhedor, a mesa de camilha, os Natais todos juntos, as saídas matinais com a minha irmã que me fazem tanta falta. Outras pessoas por lá vivem agora mas nunca mais voltará o passado porque a mãe não tornará ali.
Os tios estão longe. Ficaram na memória as festas surpresa, os almoços bem regados, a festa tão linda dos 50 anos de casados dos meus pais que preparámos de surpresa e com tanto carinho. Mais íntima foi a festa dos 25 anos de casados em que combinámos ir ter com eles e fazer uma surpresa. Eles, tão pueris nas mostras de ternura, ficaram tão felizes que só isso valeu toda a viagem. Foi um serão tão bom!
Agora ficámos nós, os três irmãos, vivendo longe mas tendo-nos no coração. preparando o nosso envelhecimento, encontrando uma vida nos escombros da vida que já foi. Transportando connosco tudo o que nos ensinaram e mostraram ser o bem. Fortes como eles mas no fundo de nós próprios somos apenas órfãos de uma vida que já não existe. Uma vida que vivemos quase sem dar conta, sem dar valor a coisas que agora engrandeceram e mostraram os seres maravilhosos que tivemos como pais.
Tenho saudades vossas juntos meus pais. Tenho saudades de vos ver juntos, no quintal, em casa, sentados à porta nos balcões de pedra.
A ti pai, dedico todas as minhas vitórias e pequenas lutas porque sei que estarás para sempre ao meu lado a torcer por mim. Isso, não fossem as saudades que sinto de ti, bastava-me para ser feliz.
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