Completamente a favor. Nada contra. Apenas uma reflexão sobre o que é este trabalho com hora marcada e ao cair da noite.
Tenho quase 40 anos de profissão. Sempre trabalhei colaborativamente de uma forma alegre, consciente e com grande repercussão nos alunos. Não tinha hora marcada. Algumas vezes, na preparação de grandes eventos educativos, prolongou-se pela noite fora, ouvindo os galos ao romper da aurora. Nem um queixume no grupo alargado de docentes motivados.
Quem quiser reforçar que o trabalho colaborativo começou agora será sempre desmentido pelos mais velhos.
Preparavam-se aulas teóricas e práticas e, apesar dos laboratórios serem rudimentares, cada um de nós trazia o que faltava para que não falhassem as experiências e os alunos pudessem aprender a redigir relatórios científicos, soubessem distinguir "observação" de "interpretação da observação" e de "conclusão da experiência". Bons tempos!
Faziam-se reuniões produtivas onde todos tinham hipótese de dar a sua opinião, dizer da sua justiça e acrescentar algo à ideia partilhada por todos. Os mais novos aprendiam com os mais velhos, quer pelo lado positivo quer pelo lado negativo, e a falta de recursos nunca foi algo que travasse a nossa imaginação. Se queríamos algo que não existisse, deitávamos mãos à obra e tudo aparecia.
Conhecíamos de uma forma geral a vida de cada um o que levava a que se celebrassem aniversários, casamentos e outros momentos felizes e estivéssemos sempre presentes nos momentos tristes.
Hoje, mesmo com a hora marcada, sabemos pouco de cada um dos colegas que todos os anos chegam de novo. Não lhe conhecemos a origem, os estados de alma, a família. De vez em quando, um deles fica doente e até temos dificuldade em saber quem é que falta. O ambiente tornou-se impessoal, frio, distante, sem ter em conta o individual. Restam-nos os amigos de outros tempos, antes de uma certa ministra ter deitado pela rua da amargura o que somos e o que fazemos. Com esses ainda é possível o riso franco, o humor inteligente e as conversas sobre o nosso mundo interior.
Tarefas vazias, num espaço que se pretende ser cheio de tudo!
Anda assim o ensino público!
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