Nos últimos anos da sua vida o meu pai costumava dizer que o tempo lhe escorria entre as mãos. Os domingos vivem colados aos domingos costumava dizer do alto da sua sabedoria. Para mim, por aquele tempo, ainda havia muito dia pelo meio, muitas tarefas, muita vida e os domingos estavam muito separados uns dos outros.
Depois, um dia, assim como quem surge do nada os domingos colaram-se uns aos outros. O tempo entre eles fugiu, deixou de ter a imensidão que tinha e a urgência de viver o que restava instalou-se.
Tudo isto a propósito da festa deste fim de semana. No meu local mágico da Senhora de Assedasse, casou-se o primo que embora durante uns anos visse pouco porque as nossas vidas se afastaram, faz parte da minha infância, do meu ninho e das minhas recordações. Somos vizinhos e os terraços largos das nossas antigas casas eram apenas separados por uma nesga de jardim cheio de lilases. Ele mais novo do que eu, sentava-se sozinho a ver a paisagem e eu do meu lado dialogava sobre os dias e sobre a escola. Achava-lhe graça! Penso que ao olhar aquela paisagem, todas as tardes, lhe deviam vir à mente as paisagens angolanas que tinha deixado para trás e que alguma saudade e solidão lhe deveriam ocupar o coração.
Agora já nada interessa. Os avós já não estão, o terraço ficou deserto, mas ele vive feliz por aquelas bandas que me viram nascer e o adoptaram a ele.
No lugar mágico da Senhora, oficializou a família que já havia construído. Gostei de lá estar e de a minha memória ainda lembrar o garoto solitário que era e de ter tido a oportunidade de acompanhar o caminho bonito que a vida lhe construiu. Com o empenho dele, é claro!!
Foi muito bom ver-te feliz!
Foto de Manuel Ferreira.
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