domingo, 3 de maio de 2020

A minha mãe


A minha mãe não é uma mãe qualquer. Não é de mimimis, de abraços e de beijos por qualquer coisa que se faça -  é a tua obrigação, dizia sempre!
A minha mãe ensinou-me pelo exemplo o que é a coragem, a superação, o ir mais além mesmo que se pense que já não se consegue, o espírito de sacrifício (como ela dizia!), o colocar-me sempre no lugar do outro, o sentido do trabalho, por vezes árduo mas libertador, o sentido do dever, o sentido de família, o respeito pelos mais velhos, o dar-se sem pedir nada em troca, o ser a coluna vertebral de uma família, o sentido da responsabilidade pelos meus actos, a felicidade de uma consciência tranquila, o ser boa gente, o ser bondosa, o ajudar os outros que precisam mais do que nós.
Ensinou-me a autonomia, o ir para a frente sem medo, a ter confiança em mim e nas minhas possibilidades. Ensinou-me a acolher quem viesse e a tratar com lisura mesmo quem não merecesse. Ensinou-me o valor do silêncio quando as palavras eram parcas para transmitir o que sentíamos. 
Deu-me a liberdade para escolher o meu caminho e, mesmo que não concordasse com as minhas escolhas, sempre as aceitou. Tinha por lema que "quem não se guarda por si não é bem guardado"!
Só muito tarde percebi o modo sereno e triste como ela viveu os episódios mais tristes da sua vida! Poucas vezes a vi descontrolada pela dor e esses momentos ainda vivem em mim. 
Também sabia esconder o medo! Fazia de conta que tudo estava bem e eu acreditava. Agora penso que, em certas ocasiões, ela tinha muito medo. 
Quando mais velha começou a sentir a falta dos abraços e dei-lhe muitos. Saldámos a falta deles, por falta de tempo, noutros tempos.
Era uma mãe cuidadora de todos à sua volta. Mostrava o seu amor pelos actos e não pelos gestos amorosos que guardaria para os seus momentos íntimos. Não era distante. Era atarefada, presente, trabalhadora até mais não, preocupada, ansiosa, orgulhosa dos  seus feitos, amante dos seus filhos. Quis para nós um futuro, traçou meticulosamente o nosso percurso e alcançou a sua meta. 
Era de ideias fixas a minha mãe! Nem que para as concretizar tivesse de se ter espírito de sacrifício!
Era uma GRANDE MULHER  a minha mãe. Muito do que sou e sinto o devo a ela!
Hoje é o teu dia e tu não o sabes! A demência roubou-te  a lucidez mas o teu amor ficou em nós cravado como em pedras de granito. 

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