quinta-feira, 7 de maio de 2020

Tenho saudades da minha mãe

Não posso estar com ela, não posso acalmar-lhe o sofrimento aparente de quem já não consegue fazer uma frase coerente até ao fim. Mas adivinha-se, completa-se com o que sabemos dela e ela acalma-se. Por vezes, sorri e fecha os olhos como que sabendo que durante aquele tempo alguém vela por ela e pode descansar.
Não se entristece quando partimos porque já não dá conta mas enquanto estamos penso que desfruta de nós.
Há dias piores e este é um deles. A orfandade invade-me. Nenhuma videochamada substitui o estar lá. Enquanto estou com ela parece que os meus problemas ficam mais pequenos porque o seu colo me faz sentir amada. 
Deixo-te um dos meus poemas preferidos. O poema que faz sentido nestes tempos em que a tua vivacidade de outrora me faz doer o peito de saudade.

Mãe! aqui me tens,
restos de mim.
Guarda-me contigo agora,
que és tu a minha justiça e o exílio
do perdido e do achado.
Guarda-me contigo agora
e adormece-me as feridas
com as guitarras do fado.
Mas caberá no teu regaço
o fantasma do perdido?

Fernando Namora, in "Mar de Sargaços"

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