Eu sei que ela não vai ler isto! Porque não tem facebook e nunca perde tempo na net! Sei que gostaria de ir lendo a minha vida e antevendo no conhecimento profundo que tem de mim tudo aquilo que não é dito por estas bandas! Mas não procura, porque é distraída, tem muito que fazer e o computador é só uma ferramenta de trabalho!
E por saber que ela não vai ler, posso contar que o encontro no final de almoço foi como um regresso a casa. A uma amizade que começou aos dez anos, improvável, quase impossível, mas que se manteve pela vida fora.
Conhecemo-nos no 1º ano do então ciclo preparatório. Eu, vinda da aldeia, ávida de novidades, de coisas novas, de descoberta. Ela, vinda do colégio privado, da família burguesa bem instalada na vida. Partilhámos gostos, lanches e sonhos. Crescemos juntas! Afastámo-nos quando precisávamos de mais liberdade, de nos sentirmos mais inteiras e mais afastadas do que conhecíamos de nós próprias até então. Quando era necessário criar novas personagens no teatro do mundo!
Depois, casámos. Eu primeiro. Ela, um ano depois. Mudei de cidade. Ela ficou no prédio onde sempre tinha vivido. Ambas tivemos dois filhos. Fizemos picnics de encontros ansiados, fins de semana com as crianças.
O tempo transformou os encontros em telefonemas ao serão. Mas a sua amizade continuou a ser um porto seguro que me leva à infância.
Nos meus momentos mais negros, ela esteve lá! Sempre! Ajudando e dando mimo.
Houve dias em que me zanguei com ela! Dias em que me desiludiu, em que podia ter sido de outro modo!
A vida deu muitas voltas e reviravoltas. O que era seguro deixou de o ser. O que era certo passou a incerto.
E ontem fui tomar um café com ela. Estamos mais velhas, mais cansadas e talvez com menos sonhos. Falámos dos filhos homens. Falámos das mães e de como é difícil vê-las envelhecer. Sorrimos da desgraça, dos esquecimentos delas, das incapacidades. Depois, mais a sério, falando mais com o coração do que com as palavras, partilhámos a nossa intimidade de sentimentos. Os negros e os menos negros. As lágrimas afloraram quando falámos dos nossos pais já falecidos e do sentimento que nos persegue de que, lá longe, nos guiam os nossos passos e os passos dos netos que adoravam. Falámos dos nossos homens. Falámos da saudade que temos uma da outra.
Despedimo-nos à saída com a promessa de ir tomar café mais vezes!
Foi um regresso a casa!!
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