quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Coisas de meu pai




Como duas gotas de água, eu e ele nem necessitávamos  de falar. Sinto umas saudades imensas deste entendimento que nunca mais senti! Podia contar-lhe tudo e ele a mim. Já no fim da vida, tornou-se mais solto nos desabafos e eu ria com ele e aconselhava-o. 

Lembro-me especialmente e com muita saudade de um passeio de carro que fizemos os dois para falar de coisas muito importantes na minha vida. Eu conduzia e ele ouvia as minhas razões. Acabou da forma como sempre acabava:

O teu coração é  o teu mestre. Tens de ouvi-lo!

E, com o tempo, habituei-me a esperar que o coração falasse. Antes de decidir qualquer coisa e não sei o que fazer, espero pacientemente que no meu cérebro o coração comece a formar a resposta. Quando tal acontece desce sobre mim uma grande certeza e decido bem. Aprendi com o pai e tenho desenvolvido a técnica de ouvir o coração. Nunca se engana! Mesmo que pareça o contrário, o tempo acaba sempre por colocar tudo no seu lugar.

Querido pai!

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