quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Coisas de minha mãe

 


Gostava de ajudar, de ouvir os outros, de concluir sobre as suas necessidades e, sem dizer nada a ninguém, ajudar de todos os modos e feitios. Incomodava-a a pobreza, a carência e a doença que tudo acarreta. Herdou este modo de estar na vida da "madrinha velha" como nós, os seus sobrinhos netos lhe chamávamos. Mulher independente, solteira, com posses, estava lá sempre para acolher quem não tinha com que alimentar os filhos, quem necessitava de medicamentos, ou quem só necessitava de um conselho amigo. 

Quando era pequena, as tardes de Domingo eram passadas em conversas com as mulheres que vinham dos casais e que iam lá a casa acabando sempre por lanchar. Minha mãe ouvia-lhes a solidão e os problemas e tinha sempre uma palavra para cada uma delas. Na penumbra da cozinha, trocavam problemas, carências, dificuldades e saiam, muitas vezes, com sacos de roupa ou outras necessidades.

Perante a grandeza da minha mãe, sempre me meteram muita impressão as falinhas mansas, as conversetas sem fim, as ajudas fictícias, o passar a mão pelo ombro para ficar bem na fotografia e nada mais. 

Ajudar o outro é estar lá com uma dose muito grande empatia. Não interessa dizer que se vai. É preciso ir!

Os dias só fazem sentido, se deixarmos de olhar o umbigo e começarmos a olhar e a ouvir os outros muito para lá do que é visível. 

Como a minha mãe costumava dizer amiúde:

De boas intenções está o inferno cheio.

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