No Verão tínhamos sempre familiares a passar férias ou só de visita. Nessas alturas, saíam do armário os pratos com flores verdes com o seu cheiro característico, os guardanapos de pano enfiados em bolsinhas bordadas, as jarras de vidro e a toalha imaculada. Havia sobremesa e café acompanhado por uns esquecidos divinais. Desfilavam pela mesa empadões de frango, coelho frito, cabrito no forno, pasteis de masa tenra, bolos de bacalhau, peixinhos da horta, ervilhas com presunto e ovos escalfados, travessas enormes de arroz doce, leite creme queimado, enfim um prazer supremo para os olhos e para o paladar.
Sentar-se àquela mesa exigia que se soubesse comer de faca e garfo, se tivesse maneiras, se soubesse ouvir as conversas dos adultos e só se levantasse quando o mais velho à mesa o autorizasse. Minha irmã, desde muito nova, se sentou com os adultos. Gabavam-lhe as maneiras e a compostura que trouxe até à actualidade. Eu e meu irmão ficávamos na cozinha, um de cada lado da mesa à espera que os adultos se servissem. Só então, quando as travessas regressavam à cozinha, nós nos servíamos entre gargalhadas e maus comportamentos. Estes almoços eram também momentos de grande liberdade porque ninguém nos vigiava. Uma vez ou outra uma tia já idosa fazia-nos companhia. Não me lembro por que razão não ia para a mesa! Atrapalhação com os talheres? Talvez!
Num desses almoços meu irmão veio com a teoria que a comida depois de ser lambida por um gato sabia melhor!? Colocámos os pratos no chão e fomos buscar um gato que adorou a experiência. Depois acabámos de comer!
Até me arrepia pensar nisto agora mas aconteceu!
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