Para quem tem filhos que ainda vivem com os pais.
Sempre abominei aqueles hábitos de passar o fim de semana a limpar casas meticulosamente, como se disso dependesse a felicidade terrena.
Nunca deixei de sair no fim da semana com os meus filhos por qualquer tarefa doméstica que teria de ser realizada. Primeiro as saídas e o divertimento e as tarefas iam-se fazendo nem que fosse aos serões quando eles já dormiam.
Quando eu morrer, a casa fica cá, os móveis encher-se-ão de pó e tudo deixará de fazer sentido porque as coisas só fazem sentido agarradas às recordações de quem as viveu. Para os outros são meras coisas sem sentido. Basta dar uma olhadela aos inúmeros blogues que fotografam casas abandonadas ou visitar uma casa de venda de velharias. Ali estão vidas, objectos de culto para alguns, que agora têm apenas colada uma etiqueta com um preço. Adivinho que foram limpos meticulosamente em muitos sábados tristes e escondidos de netos turbulentos em rápidas visitas à casa mãe. Quase se consegue perceber que as vidas a que pertenceram estes objectos não foram totalmente aproveitadas.
As coisas deixam-nos e morrem connosco. As recordações que deixamos, o que fazemos juntos, farão a nossa história.
Por tudo isto, mesmo que a casa esteja um caos, mesmo que a roupa suja se acumule, mesmo que a tábua de passar a ferro nos chame, ignorem e saiam com os vossos filhos. Joguem à bola, façam piqueniques, construam um mundo só vosso, riam e divirtam-se, aventurem-se, criem memórias.
Isto é o mais importante! Tudo o resto é só conversa, tradições falhadas e falta de imaginação.
Ah! Mais uma coisa: Viajem muito! Metam-se no carro sem destino. Aventurem-se. Visitem muitos monumentos, muitos museus, aprendam muito de arte, de história, de ambiente, de geologia e biologia, de qualquer coisa. Parece que não fica lá nada, mas fica tanta coisa! Mais que não seja a vontade de replicar estes comportamentos com a nova geração.