terça-feira, 19 de março de 2019

Saber envelhecer


Fui uma adolescente muito insegura. Sei agora, que sem razão. Na altura, não sabia! Metade daqueles anos foram desperdiçados. Salva-se tudo o que aprendi culturalmente, todos os bailados que vi, todos os filmes de grandes realizadores, todos os concertos a que assisti. Amigos da minha idade tive poucos. Os tempos livres passava-os com os amigos dos meus irmãos, porque dava mais jeito, era mais fácil sair de casa, a protecção também era maior e eu gostava de me sentir segura.
Não me lembro muito bem dos meus colegas de turma no liceu, convivi pouco com os meus colegas de faculdade, aí já devido a uma grande paixão que me consumiu os dias e as noites e se foi apagando  com os anos como acontece com todas as grandes paixões. 
Quando dei por mim, estava no mercado de trabalho e vivia sozinha na Figueira da Foz, aproveitando ao máximo a praia da claridade. Foi um glorioso ano! 
No final do ano, um concurso para efectiva obrigou-me a partir para longe do mar. Chorei muito, percorri mil e uma vez as ruas familiares dentro do meu 127 beige, que me iria acompanhar ainda alguns anos, tentando absorver os cheiros, a luz e tudo o resto do que teria saudades. Foi muito difícil despedir-me do grupo de amigos divertido, alegre e bonito como só gente de vinte e tal anos sabe ser. 
A partir daí, começou uma nova fase na minha vida! 
Casei-me. Construí a minha  família e deixei de pensar em mim só porque o tempo era pouco para tanto que tinha para fazer. Mudei de casa e de cidade e parei num local onde não conhecia ninguém e onde nenhuma mão se estendia quando precisava. Éramos só nós e a nossa condição. Vivo por aqui há 31 anos! 
Começa a tomar conta de mim uma vontade enorme de partir! É bom sinal! O bom envelhecer traz clarividência e eu sei muito bem o que me faz feliz e o que quero para mim! 
Todas as noites avança mais um pouco este sonho dourado que trago comigo!
Vamos ver!

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