Ao telefone com a minha irmã recordámos uma história que a minha avó nos contava amiúde sempre com novos pormenores. Mesmo depois de tantos anos, mais propriamente 35 ou mais, ainda conseguimos lembrar toda a história que rezava assim:
Um pai tinha duas filhas mas uma delas, a mais velha, já não tinha mãe. A mais nova era filha da atual esposa. Havia assim uma enteada que era obrigada a trabalhar duramente durante todo o dia e a quem o pai chamava "Maria alta madruga" querendo com isto dizer que a rapariga se levantava de madrugada para fazer todo o trabalho em casa e na quinta. A mais nova, não fazia nada porque a mãe a poupava. O pai chamava-lhe a "Maria mija e vai-te deitar" porque a mãe, logo que ela ceava, lhe dava esta ordem indo a menina para o vale dos lençóis enquanto a outra continuava a trabalhar noite dentro.
O tempo passou, as crianças cresceram e ambas se casaram e foram viver para longe indo de vez em quando visitar o pai. A "Maria alta madruga" enriqueceu pelo trabalho, construiu uma boa casa e criou uma bela família. A "Maria mija e vai-te deitar" como não sabia trabalhar nem fazer nada, nunca conseguiu "subir " na vida.
O pai quando as via ao longe dizia sempre: Lá vem a minha filha "Maria alta madruga" a cavalo na sua bela mula e lá vem a minha filha "Maria mija e vai-te deitar" descalcinha e rota pelos tojos a passear!!
Era gira esta história que enaltecia o trabalho como fórmula para o sucesso, para a construção de algo útil, para a motivação e para a felicidade futura. A minha mãe continuou este discurso, por parábolas, e essencialmente pelo próprio exemplo que sempre nos deu.
Hoje em dia, talvez o final da história não fosse este. Nestes tempos perturbados, cheios de nuances, artimanhas, aldrabices e corrupção a "Maria mija" arranjaria artimanhas e teria muito mais tempo para desenvolver artes que lhe permitiriam vencer na vida com maior facilidade e eficácia. Pelo meio, ainda teria tempo para se rir na cara da "Maria alta madruga" que cheia de trabalho não teve tempo para gozar a vida nem para olhar para o lado e aprender outros métodos menos penosos de subir as escadas da vida.
Avó: obrigada pela história, tanta vezes contada e sempre enriquecida em pormenores, mas que hoje desconfiamos que já perdeu a validade!
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