quarta-feira, 24 de abril de 2024

E onde estavas tu neste dia 24 há 50 anos?

 

Estava ainda a aprender a viver na cidade! Num liceu misto no qual nunca gostei de andar. A minha irmã convenceu a minha mãe que era muito melhor eu frequentar um liceu misto e não ir para  o Liceu D. Maria, na altura o liceu feminino de Coimbra e que era muito mais perto da minha casa!

Vá-se lá saber porquê, a minha mãe concordou. E aí ia eu todos os dias apanhar o eléctrico até à baixa da cidade e depois esperar por um autocarro que me levaria para o outro lado do rio, em frente à quinta das lágrimas. Um liceu frequentado, na sua maioria, por alunos que vinham de fora da cidade porque ficava mais perto da estação de comboio. Perdi os meus amigos do ciclo preparatório e encontrei outros que nunca vieram a ser meus amigos porque entretanto, logo no dia seguinte se deu a revolução e tudo mudou. O liceu D. João III ficou misto e no ano seguinte já fiquei perto de casa. 

Valeu-me a sabedoria da D. Cecília que deixou ir a filha, minha melhor amiga, também para aquela lonjura de liceu.  Sempre éramos duas!!!! 

Só me lembro das atividades extra curriculares onde a minha mãe considerou importante eu frequentar o grupo de danças populares por onde andei perdida e desconectada do grupo durante três meses antes de ter convencido a mãe a desistir porque não gostava e não sabia dançar. Talvez daí a minha aversão actual a ranchos folclóricos!!

Havia ainda a aula de lavores femininos onde, supostamente as alunas costuravam enxovais para crianças recém nascidas pobres e que depois, por altura do Natal, já as roupas e adereços colocadas em cabazes embrulhados em papel celofane, eram entregues em cerimónia solene às mães de sorriso triste que os vinham buscar. Sem acautelar olhares nem exposições mas, pelo contrário, explorando a pobreza de quem nada tinha. Também posso confessar que tendo eu treze anos na altura, não sabia costurar e foi sempre a minha mãe que fez todas as peças que eu entreguei! Eu só fazia de conta que fazia. Será que a professora não via ou era costume e o que interessava era o produto final?

Coisas que ficam!

Hoje a minha neta mais velha perguntou se eu alguma vez tinha trazido orelhas de burro para casa! Respondi que as orelhas de burro eram para ser colocadas na escola aos que não aprendiam com tanta facilidade e que na minha escola não havia esse adereço mas uma régua de madeira com que batiam a quem menos precisava de levar porque a vida já era dura que bastasse. 

E depois a graça da neta do meio: e orelhas de vaca? Também tinhas?

Ainda me estava a rir depois do telefonema!

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