segunda-feira, 1 de abril de 2024

Mais uma Páscoa longe de mim

 


Da minha essência, do que sou e do que fui. O cheiro da flor das giestas que enchia o ar, as tradições religiosas, as procissões solenes e silenciosas. As passadas curtas e silenciosas das pessoas de idade que todas as sextas feiras santas percorriam a rua da procissão em silêncio, orando " Lá iremos, lá iremos às portas do paraíso, abertas as acharemos, as do inferno fechadas parecem casas queimadas ...". Sei  toda esta oração do tempo em que dormia com a avó e ela me ensinava todas estas tradições. Saudade.

Começava o sábado de Aleluia e o sino tocava toda a noite. Um martírio para quem queria dormir!

O que eu gostava mesmo? Da Visita Pascal com todo o cerimonial que se fazia lá por casa. A primeira coisa era saber por que lado da freguesia começava o padre a visita naquele ano. Vivendo nós numa das pontas da aldeia, fazia toda a diferença porque ou era manhã cedo ou já ao cair do sol. Perguntas aos vizinhos, ao sacristão e lá se concluía a trajectória. 

Sentia-se ao longe a aproximação do cortejo pelo sino que o acompanhava. Meu pai, vinha para  porta, com o seu ar mais solene e todos ficávamos dentro da sala, perfilados, à espera. Meu pai beijava a cruz enfeitada com flores e convidava todos a entrar. Chegava a nossa vez! Rezávamos todos uma oração, alguma das crianças comia uma amêndoa e lá partiam para mais uma casa não sem antes  o padre benzer a família e a casa. 

Coisas que me lembram porque estão cravadas neste coração e nesta alma de que sou feita. 

2 comentários:

Anônimo disse...

O que a senhora é, a sua essência como diz, é o que é agora neste momento. Todas essas memórias, a Páscoa antiga, o toque dos sinos, o compasso, a casa dos pais, são todas elas que compõem a sua essência e não deveriam fazê-la sofrer só porque já não existem. São o seu património afectivo, são elas que a fazem ser como é, que enformam as suas qualidades e características. É com elas que pode construir páscoas para as netas e filhos, páscoas futuras que eles um dia recordem. Se não tivesse essas memórias não seria como é. E, no seu caso, isso não pode ser uma mágoa.

Eulália Tadeu disse...

É mesmo assim! Eu não seria quem sou se não tivesse tido a vida que tive e nascido no sítio onde nasci. Muito amor e uma família cinco estrelas que sabia muito bem para onde caminhava. Eu também sei para onde caminho mas sinto tantas saudades do meu pai, da minha mãe, da minha avó materna!! Gostava tanto que eles continuassem a caminhar comigo!