O outro dia, ao ouvir falar o ministro da educação, estava a pensar que todos eles deveriam passar um ano, pelo menos, na escola pública para saberem como funciona e, só depois, poderiam decretar medidas educativas para salvação do sistema.
Tive a sorte de ter feito estágio integrado na Universidade de Coimbra com dois orientadores fora de série. Já com alguma idade, bons profissionais, todas as 4ª feiras nos reuníamos para falar e modificar tudo o que tinha corrido menos bem na semana anterior. Sem juízos de valor ou críticas íamos aprendendo que algumas das estratégias não funcionavam e outras, muito mais simples, funcionavam muito melhor.
Não esquecer que lidar com crianças ou adolescentes não é o mesmo que lidar com papéis ou estar a resolver assuntos a uma secretária. Os alunos são pessoas em formação e temos de ter isso sempre em linha de conta.
Depois deste ano não me considerei lançada "às feras"! Tinha ferramentas poderosas que com mais aprendizagem com os colegas mais velhos fui aprimorando e descobrindo.
Enquanto Coordenadora de Departamento Curricular fiz sempre um pouco este papel com as colegas que chegavam sem nunca terem dado aulas.
Se eu fosse o ministro o que diria neste momento da situação do ensino público?
1 - Os professores com mais tempo de serviço e mais perto da reforma poderiam ter a hipótese de ficarem a ajudar um grupo de colegas que estivessem pela primeira vez no ensino. Tanto para aprender!
Não se grita quando há barulho na sala. Fala-se cada vez mais baixo e o ruído reduz.
Quando há um aluno mal comportado, chegamos perto dele. Se for necessário, permanecemos por um bocado continuando a aula junto dele.
Os alunos não devem estar muito tempo a ouvir. Entremear uma explicação curta com tarefas exequíveis relativas ao que foi explicado. As tarefas podem não ser digitais. Os alunos gostam de escrever, de ler, de resolver.
Em turmas com alunos com muitas dificuldades colocar tarefas escritas, com um exemplo resolvido e a seguir tarefas repetitivas e com baixo grau de dificuldade de modo a fazê-los sentir que são capazes de a resolver. Nenhum aluno se motiva se a tarefa tiver um grau de dificuldade muito superior ao conhecimento adquirido. Pouco a pouco, ir aumentando a dificuldade mas mantendo o esquema. Seguir o método Kumon dá sempre bons resultados.
Tratar os alunos sempre com respeito. São pessoas. Por serem mais novos, nada permite que não seja assim. Tentar perceber o porquê de certos comportamentos. Por vezes, percebe-se que face à vida de cada um, até é muito bom naquilo que faz e realiza um esforço titânico para estar ali e chegar onde chega. Cada aluno é um caso.
Saber explorar o erro numa aula é uma ferramenta importantíssima que, muitas vezes, faz a diferença nas aprendizagens. Entrarem em silêncio nas aulas e saírem por filas para evitar aglomerados também transmite ordem e disciplina.
Ouvir o que têm a dizer os alunos. Aproveitar, sempre que possível, as suas contribuições e dar-lhes visibilidade. Aumenta a auto estima de cada um deles.
Ensiná-los como se estuda a disciplina. Perceber quais os métodos de estudo que utilizam e como podem melhorá-lo.
Tudo isto podia ser ensinado por docentes com tarimba que passassem o seu testemunho às gerações que se quer que entrem mas não se lhes dá condições para o fazerem com qualidade.
2 - Aumentava significativamente o ordenado dos professores no primeiro escalão de modo a que os jovens se tentassem, mais que não fosse, pelo ordenado. Com um pagamento tão baixo, a escola pública não consegue atrair docentes de qualidade.
3 - Um técnico superior por agrupamento para diminuir a burocracia? Coitado do técnico!!! Há que diminuir sim, mas doutro modo. As reuniões têm de ser diferentes, as atas de 18 páginas repetindo sempre a mesma coisa têm de ser reduzidas. Coloca-se na primeira acta a informação importante relativa a cada aluno e, só se mudar alguma coisa, se refere posteriormente. Contactos com os encarregados de educação? Se fica registado noutro suporte, para quê em acta? Projecto de Educação Sexual com número de aulas indicado em legislação? Então por que razão também não existe um de educação ambiental, outro de educação cívica, outro de educação emocional e por aí adiante? Não será que o perfil dos alunos à saída da escolaridade obrigatória (PASEO) terá já isto tudo contemplado?
4 -Tarefas classificatórias com respectivas rúbricas de avaliação para cada uma. Não seria muito mais simples, no início de cada ano, o aluno ter em seu poder estes documentos e a partir daí, como avaliação contínua que é, poder ser avaliado sem mais documentos estafantes?
5 -Planificações- Diminuir a complexidade com a ajuda do que já existe no mundo digital. Se se adopta um livro, a planificação que vem com ele tem, com toda a certeza, muito a ver com o modo como decorre o ano e o trabalho que se desenvolverá. O trabalho prévio esteve na adopção do livro.
Muito mais há a dizer. Isto é só um começo.
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