S.
Martinho de Anta, 21 de Abril de 1956
Quatro da manhã. Acabei de dar a
extrema-unção ao velho — a extrema-unção que um médico pode dar a um
moribundo: estrofanto e panaceias afins. Está perdido. Mas prometi
curá-lo e levá-lo a ver a neta dentro de dias. Menti-lhe pela primeira
vez na vida, e foi justamente a primeira vez que tive a impressão de que
acreditou cegamente em mim. Tanto me esforcei durante anos e anos para
lhe demonstrar que era digno da sua lisura, e o destino exige-me esta trafulhice piedosa no último momento.
— O meu filho vem aí... — dizia ele, a ameaçar a morte e a infundir confiança aos desanimados.
E eu chego, e acudo-lhe com drogas inúteis e promessas falsas! Sei que me perdoará, se tiver consciência de que o enganei. Mss acompanhá-lo-á uma tristeza igual à que me fica: a de que não fui capaz de um milagre na hora decisiva.
— O meu filho vem aí... — dizia ele, a ameaçar a morte e a infundir confiança aos desanimados.
E eu chego, e acudo-lhe com drogas inúteis e promessas falsas! Sei que me perdoará, se tiver consciência de que o enganei. Mss acompanhá-lo-á uma tristeza igual à que me fica: a de que não fui capaz de um milagre na hora decisiva.
Miguel Torga - Diário VIII
E a tristeza continua! Porque é a vida. Porque os pais passam a nossos filhos com a reverência de pais com que sempre vivemos! E tudo isto é muito difícil de assimilar!
E a tristeza continua! Porque é a vida. Porque os pais passam a nossos filhos com a reverência de pais com que sempre vivemos! E tudo isto é muito difícil de assimilar!
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