segunda-feira, 30 de março de 2020

Dizem que isto vai durar até Junho


Bum! Toma lá logo pela manhã para ainda ficares mais bem disposta! Não é o ficar em casa! Tenho tanto ainda que fazer por aqui! São as mortes! Morrem novos e velhos e não param de subir os números apesar de tudo o que se tenta fazer. 
Morro de medo que os meus fiquem doentes e eu não lhes possa dar assistência. Se isto acontecer vou na mesma, quero lá saber! Morremos juntos!
O medo começa a invadir-me e não gosto. Nunca gostei de ter medo. Daquele que me paralisa e me faz voltar a correr para casa. 
Agora tenho muitos medos. E tenho medo de não os conseguir resolver. Sinto-me insegura em muitas situações e questiono muito o que sou e o que faço. E não me apetece fazer o que toda a gente faz como fazer limpezas de fundo, arrumar gavetas e quejandos. E sinto-me culpada por isso.
 Ontem fui buscar a caixa das minhas recordações queridas e foi um dó. As cartas de pai querido, as entrelinhas em que nunca tinha pensado, o amor ali estampado, os conselhos escritos que só tinha entranhados na alma, a caligrafia tão característica, os bilhetinhos da avó para os netos, combinando passeios e lanches juntos, cartas de amor, postais do dia do pai, da mãe, de aniversário. Tudo de um tempo tão longínquo que me fez muito mal recordar. Um nó grande de saudade apertou-me a alma. Tempos que nunca mais voltam. Pareciam tão certos e tão duradoiros por aquela altura! Parecia que tinham vindo para ficar!  Apenas na alma permaneceram!
Chove lá fora. Muito!

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