segunda-feira, 1 de julho de 2024

Pensei muito antes de publicar este texto

 


O meu tio materno faleceu longe de nós no final do ano. Foi terrível sentir a sua decadência, vítima da doença que já tinha levado a minha mãe. Eram tão amigos e tão parecidos que era enternecedor estar com os dois e ver o modo como se entendiam. 

Há pouco tempo, o seu filho veio trazer as suas  cinzas para depositar nas campas dos meus avós, seus pais. Ali estávamos os três irmãos e ele a honrar um homem cinco estrelas, um homem que foi tão amigo quanto o podia ser para todos nós que éramos a sua família. Viveu sempre longe e sempre tão perto dos nossos corações!  Quando a mãe dele ficou doente, ele veio a Portugal passar 15 dias para estar com ela. O amor deles era enternecedor! Um amor feito de distância mas de uma solidez quase irreal.  Ficou 15 dias à sua cabeceira, dia e noite  e no dia em que se foi embora vi-o chorar e voltar para trás uma ou duas vezes para junto dela  porque sabia ser a última vez que a veria, como aconteceu! Foi tão marcante este gesto e esta situação que ainda hoje me arrepia esta demonstração de amor tão cruel e bela ao mesmo tempo. 

No dia em que estivemos os quatro  olhando o monte de um lado, e a casa dos avós onde crescemos todos do outro lado, senti que finalmente tinha regressado a casa e se fechava um ciclo. 

Deixo o texto que li na altura porque a vida é feita destes momentos de amar e de recordar, tanto na vida como na morte.


Querido tio António Maria

Repousas hoje de onde nunca saíste. Acredito que lá longe, te lembrarias muitas vezes desta paisagem de serra, deste pinheiro centenário, da vista do monte S. Domingos e dos teus. Repousa agora na terra que te viu nascer, nos braços  da tua mãe e à sombra do seu amor  que era imenso e puro.

Foste para todos um Homem exemplar! Daqueles que todos queremos ser mas nem sempre o conseguimos. Amaste-nos com acções, com atenções e com a tua presença sempre que podias.  Mesmo longe, a tua voz e o quereres saber sempre de nós e das nossas vidas,  eram enternecedores.  Eras tão nós, tão parecido, tão contido nas palavras, tão dado nas acções que todos os dias nos diziam o quanto gostavas de nós todos.

E impossível não ficares na memória dos que te seguem e seguirão.

Repousa em paz!

Eras um homem bom! Muito bom!

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