sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Amada pelas netas

 


Não há maior sentimento nem melhor sensação! Um ser pequeno que pouco a pouco, cria uma relação connosco, que se ri quando chegamos, que confia em nós, que nos ama sem condições, que adora brincar e se recorda de tudo aquilo de que falámos e  do que demonstrámos! Meus Deus, que  sentimento tão, mas tão bom!

Nos dias seguintes recordamos os olhares meigos, as mãozinhas estendidas, as graças ditas pelas mais velhas, as singularidades de cada uma, as piadas, os risos e tudo o que faz delas os meus amores pequenos.

Muitas saudades! Vontade enorme de mudar de vida!


quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Decisões importantes


 Durante muitos anos afirmei que o que poderia acontecer de pior ao pais era perder o serviço nacional de saúde. 

Toda a minha vida acompanhei familiares e amigos que sempre viveram nos Estados Unidos e assisti ao medo que eles tinham de ter doenças graves e morosas em que os seguros  de saúde não fossem suficientes para poderem ser tratados. Todos  têm mais do que um seguro de saúde para que na altura certa não seja necessário vender a casa ou pedir empréstimos para, simplesmente, não morrer.

Em Portugal sempre foi fácil  ser tratado. Tivemos sempre acesso a bons profissionais, a boas instalações e  com ou sem dinheiro, o estado pagava porque a saúde era um bem muito precioso.

Pouco a pouco tudo se foi alterando. Os privados entraram mansamente e afincadamente na equação da doença. A última vez que recorri a umas urgências de um hospital público, fiquei estarrecida. Apenas um médico de outra nacionalidade dava conta de uma quantidade de doentes incrível. Sem condições, porque alguns deles, cansados, abriam a porta do consultório e ouviam a consulta do doente anterior. Fui insultada por uma enfermeira sem razão nenhuma  só porque, percebi eu, tinha de descarregar em alguém a frustração que sentia!

Se resolveram o problema? Não.

Foi então necessário traçar nova estratégia para  alguma urgência que surja. Se algo acontecer, chamo os bombeiros que me levarão para a CUF Santarém onde sempre sou bem recebida e bem tratada. A partir daí, estarei em boas mãos. Se terei de pagar ou não, vai depender do serviço mas já o meu pai dizia que na saúde não se poupa. 

Hoje foi dia de consulta com o marido neste hospital. Uma médica relativamente nova, com uma argúcia, sabedoria e boa educação insuperáveis. Sai-se do consultório com a ideia de que estamos em boas mãos. Alguma coisa mais importante que isto?

O meu grande medo aconteceu: o SNS está moribundo! Há que enveredar por outros caminhos. 

Devo ao serviço público a vida do meu marido mas já passaram 10 anos!! Tanta coisa mudou!! Para pior, muito pior! A economia e a ganância são tramadas!


quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Cérebro baralhado é o pior


 Estou aqui numa inquietude tremenda que só posso resolver amanhã e se prende com relatórios de avaliação. Eu penso que o elaborei e o entreguei mas a dúvida surgiu com um email enviado para os serviços administrativos. 

Em ansias e com medo que algo tenha corrido mal. Será que não viram o meu relatório? É tarde e só amanhã poderei esclarecer o caso mas vai ser uma noite sem sono. Ainda vou procurar o recibo de entrega que é a única coisa que me falta. 

No meio de uma semana tramada tinha de aparecer mais uma coisa para me enervar!


terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Gosto mesmo muito de alunos


 Se há algo que posso dizer com toda a certeza é mesmo isto: adoro estar com alunos. 

Este ano, tenho os alunos que têm algumas ou muitas dificuldades. Vão em pequeno grupo ter aulas comigo. Adoro entrar-lhes na alma, com muito cuidado para não os ferir, e perceber o porquê de certos comportamentos e atitudes face ao mundo, à aprendizagem e à escola. 

Hoje tive o J.  sozinho porque os colegas faltaram. Falámos na apresentação oral de Inglês e dos temas que tem à disposição. Disse que ia escolher o tema "quem sou eu" e deixava o tema " a minha família" porque no ano anterior tinha sido muito complicado. O J. têm um sorriso lindo e um problema de dicção que o torna único. Perguntei porquê e  respondeu com um sorriso: não tenho fotos do meu pai, então procurei uma foto de um homem qualquer e coloquei no  slide. 

Pelo meio, contou que se levanta todos os dias às 6 da manhã para acordar o primo que vive com eles e vai para uma escola especial. Como o primo nunca quer acordar, demora sempre imenso tempo. Apanha o autocarro às 7.30h e chega à escola às 8h. Vive também com o avô e avó.

Que motivação se espera deste miúdo? Que  é que se pode pedir mais? 

Se pensarmos mais nas almas e nos problemas que cada um carrega, talvez sejamos mais benevolentes quando falamos deles. 

Não são todos iguais é claro. Há alguns super mimados e parvos que tudo têm e ainda pedem mais. 

Mas estes alunos com estas vidas tramadas, dá vontade de os pegar ao colo e os transportar para uma vida melhor, um canto onde possam estudar bem todos os pontos das disciplinas, sem o primo que não quer acordar dentro das suas limitações e sem a noite da madrugada a dificultar todos os pensamentos e a vinda para a escola. Estou contigo J.

2ªfeira é dia de hidroginástica em suspensão.

 


É só maravilhosa a sensação de estar a fazer exercício e a flutuar com uma leveza boa. Não é fácil e, no dia seguinte, dou conta de músculos que nem sabia que tinha, principalmente ao nível do abdominal.  A professora é top e vai sempre dando grande reforço positivo embora eu saiba o quanto ainda necessito de dar aos pés e braços. Querida Zé, obrigada. Parece pouco importante mas é muito para mim.

A cabeça fica mais leve, as ideias alinham-se e quando saio da água, já tarde, só me apetece voltar. Ter em atenção que isto não é nada normal em mim, avessa a exercício físico,  ainda por cima, que passa por vestir e despir, banhos e afins e enfrentar o frio na saída. 

Muito bom.


sábado, 11 de janeiro de 2025

Novas aventuras


 Ontem iniciei um tratamento estético que consta de 20 sessões. Não fiquei muito animada com o primeiro e ainda faltam 19! Eu e a s minhas maravilhosas ideias. Dói-me tudo. O local também não tem charme e todos sabem o quanto eu valorizo isso. Espreitei para um WC e vi sanitas com tampo de plástico gasto. Foi o bastante para eu vir a correr para casa e não usar aquele local. Já não mudo!!

As funcionárias também não são o cúmulo da simpatia. Acabei a sessão com este comentário " Se amanhã estiver com algumas nódoas negras, não se preocupe que é normal!!"

E agora? É continuar, afincadamente uma vez por semana. Não tenho nódoas negras mas estou dorida. 

Sabem quando estão a fazer algo que sabem que não vale a pena? Assim estou eu!!

Bom fim de semana.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

Livros incríveis


 Este livro não se lê, devora-se. Há já algum tempo que o título e a crítica me tinham chamado a atenção. Na minha prática lectiva dos últimos anos constacto que os alunos dominam muito pouco as lides digitais, retirando evidentemente os jogos e as redes sociais. Basta passar pelos corredores em horas de intervalo para perceber que todos jogam utilizando os seus apetrechados aparelhos e são exímios a tirar fotos caricatas aos colegas em situações embaraçosas. Edição de fotografia? O que será isso?

Quando se pede uma abordagem mais investigativa,  ou algo mais elaborado, a maioria nem conhece de que se fala. Não nasci na era digital mas todos estes anos, em inúmeras acções de formação fui actualizando as minhas competências e aplicando em sala de aula, com algum êxito, o que fui aprendendo. Muitas vezes a ajuda vinha de fora quando em face de um concurso externo lançado por uma grande farmacêutica internacional nos deparámos, eu e os meus alunos, com outras necessidades e lá fomos aprendendo uns com os outros. 

A partir daquela altura, as apresentações orais passaram a incluir infográficos mas antes, estudámos em conjunto, o modo de o tornar mais atraente  incluindo toda a informação científica pedida. 

Em Florença, durante uma semana, tive a oportunidade de poder selecionar uma série de aplicações para o ensino das ciências, simplesmente incríveis. 

Não quer isto dizer que eu centre, ou alguma vez centrei, as minhas aulas no digital. A relação pedagógica é fulcral para a aprendizagem. A emoção, a dúvida, a pergunta na hora certa, a explicação simples que chega, a história paralela que ajuda na compreensão, tudo é importante. Muitas vezes, muitos anos depois, o aluno lembra-se destes episódios inerentes a uma relação pedagógica ( a professora disse isto, disse aquilo,...).

Para quem, como eu, gosta de alunos, o digital tem uma função muito bem definida mas nunca será o centro. 

E um dia, pegas num livro, começas a ler e está lá tudo muito bem escrito. Tudo aquilo que tu pensas alguém diz por ti com estudos como base e fundamento científico. 

Fiquei feliz!

terça-feira, 7 de janeiro de 2025

Hoje, o meu cunhado Amaro faria 76 anos!!


 Todos os anos, desde que ele partiu me lembro dele. Essencialmente o que  guardo com mais carinho é o gosto que tinha por viver a vida rodeado de coisas boas. Fosse um bom hotel, uma boa refeição num restaurante de renome ou uns sapatos luxuosos. Identifiquei-me sempre com este lado boémio e  com estilo que ele tinha. Conhecia os melhores vinhos e os melhores petiscos e tinha verdadeiro prazer em desfrutar com os que o rodeavam de tudo isto.  Foi pena ter falecido tão cedo. Penso que neste momento seria uma grande companhia para mim porque partilho os mesmos gostos e tenho as mesmas ideias da necessidade de aproveitar a vida que vai passando. Ele aproveitou o que conseguiu até a maldita doença o ter vencido. 

Lutou sempre quase até ao fim. A última conversa engraçada que tive com ele foi sobre a toilete que ele iria levar ao casamento do meu filho mais velho. A alegria dele a falar sobre a qualidade e a beleza do fato, a necessidade de comprar uns novos sapatos, de boa qualidade, claro.

Já não conseguiu ir ao casamento em Agosto. Faleceu em Dezembro. Quando olhei para ele na urna vi o fato!! O tal para o momento especial. Querido Amaro! Percebeste tão bem a importância das coisas e dos momentos que continuas a ser um exemplo vivo para o meu viver.

A vida, essa conhecida


 Se se estiver atento à paisagem e às pessoas que connosco se cruzam, damo-nos conta de que tudo é passível de ser relatado em longas histórias e em curtas cómicas e, por vezes, trágicas. 

É este olhar sobre o mundo das coisas e das pessoas que cultivo cada dia mais afincadamente. 

Por vezes, só a postura de um aluno, uma frase que profira, uma conversa que se ouve de passagem, um dizer de uma colega, um olhar do céu cinzento, os passos apressados de alguém que caminha em esforço, a tristeza nos rostos que nos olham, a alegria em quem pressentimos vidas difíceis, as "desgraças" de quem tudo tem. Tudo isto é poesia e tudo isto mexe comigo. 

O final do dia é sempre o tempo da reflexão. De pôr em perspectiva tudo o que vivi nesse dia e de, mais uma vez, me sentir abençoada pela boa cabeça  que ainda vou tendo!

Atenta aos outros. Feliz por ter uma profissão de que gosto, os meios de sobrevivência assegurados e uma família que me quer e eu adoro. Tempo para o que gosto de fazer, projectos, uns maiores, outros mais pequenos, mas que me vão entusiasmando todos os dias. Uns terão concretização, outros, talvez não, mas sou feliz a sonhá-los. 

Mais um dia que chega ao fim. Já não haverá outro igual. É passado. Pensar agora no dia de amanhã. 

domingo, 5 de janeiro de 2025

Somos o que vivemos

 


Ontem, ria-me com a minha irmã ao relembrar episódios de quando era pequena e vivia numa aldeia perdida da Serra da Estrela, onde nasci. Não são episódios de felicidade mas quase parecem saídos de um filme, pelo seu pitoresco, visto a uma distância de 50 e muitos anos. Cheia de personagens icónicas que fizeram e ainda fazem parte do meu imaginário, pelo que eram, pelo que algumas delas sofreram e pelo modo como viviam a sua vida. Podia escrever mil e um posts sobre cada uma delas. 

Talvez destas vivências tenha resultado o meu grande optimismo face à vida e às coisas. Já vi tanto, já assisti a tanto que pouco ou nada me faz vacilar. Naquela época, as crianças  não eram poupadas a nenhum cenário, desde visitar a tia em último grau de demência, até velórios macabros e visitas a doentes terminais com tudo o que acarretava. Se alguém morria sem ser velho e as crianças perguntavam o porquê a resposta vinha pronta: enforcou-se. Era algo comum naquela época em que o SNS não existia e os médicos serviam uma classe que podia pagar. A pobreza era mais visível no Inverno, quando a neve cobria todos os recursos. A madrinha velha como todos lhe chamávamos, irmã mais velha da minha avó materna, solteira e com posses, distribuía medicamentos por todos os que sofriam para alivio das dores do corpo e da alma! Ainda há pessoas que se lembram disso. O famoso Saridon. Se fosse actualmente...

O álcool era  o refúgio para os pensamentos menos bons e para a pobreza instalada, principalmente nos homens. Aos Domingos, era típico vê-los a cambalear rumo a casa no final da tarde. Durante a semana seguinte, a minha mãe ouvia as mágoas das mulheres deles, as sovas que levavam, o sofrimento na criação dos filhos que lhes faziam nessas noites atormentadas pelo álcool e pelo medo do futuro. Nessas alturas e para manter a dignidade de quem falava, minha mãe mandava-nos sair da cozinha e fechava a porta mas nós, na sala, ouvíamos  o que já todos sabiam. 

Estas mulheres e homens com quem cresci, já faleceram mas quando encontro os filhos vêm à memória todas estas vivências  e como o modo como foram criados os transformou em homens e mulheres lutadores e bem dispostos. Sabem dar valor ao que têm e principalmente à vida. Admiro-os por isso.

Tive a sorte de não ter vivido estes dramas mas assisti a tudo e, por vezes, a minha alma de criança muito nova, não conseguiu assimilar todo o drama do que vi e senti. Só agora, pensando bem e comparando com o tempo presente vejo e sinto o que cada um daqueles seres humanos viveu para sobreviver.

Aos 10 anos vim viver para Coimbra. Já mais velha, consegui perceber que os problemas também ali existiam em casas mais arranjadas mas em que faltava muita coisa. Era mais velada a miséria. Lembro-me da vizinha do 2º andar que ia ao mercado e trazia sempre um ramo de flores mas, durante a semana, pedia os bens essenciais à minha mãe que os ia fornecendo. Uma postura diferente mas a mesma fragilidade. Aqui era necessário esconder. Na Serra não era possível e ninguém queria saber de flores em jarras. 

Também aqui existiam as más relações, o adultério e as doenças. Era quase tudo igual mas embrulhado em luvas de pelica que obrigavam a uma visão  mais apurada. 

É a vida como costuma dizer filho mais velho. 

Há dias em que tudo me lembra mais. A quantidade de episódios que eu já vivi, as mil e uma vidas por que passei, os ambientes diferentes que tive de enfrentar. Como ser pessimista se consegui chegar aqui?

Obrigada pais e irmãos pela família boa que criámos,  que me educou e me deu esta postura forte com a certeza de que conseguirei enfrentar o que vier.