Por vezes, olho para a minha casa e questiono-me por que razão eu gosto tanto de móveis clássicos, objectos antigos e clássicos, madeiras, lareiras acesas e um certo conforto do antigamente.
Pensando melhor, verifico que fui muito influenciada pelos lugares que frequentei enquanto miúda e adolescente. Tudo me entrou olhos adentro de uma forma forte e marcante. Até aos 10 anos frequentava a casa de uma tia avó cheia de loiças alemãs, bonitas, douradas e clássicas todas expostas numa sala forrada de azulejos azuis que era um primor. A casa da minha professora, prima da minha avó, tinha um cheiro de coisa rara, com os seus bolinhos areados servidos com chá numa sala clássica. A casa do padre Samuel tinha uma sala de jantar cheia de loiças bonitas que reluzia nas grandes festas religiosas quando imensos padres conviviam à volta de uma mesa farta, iluminada por um lustre que lhe oferecia grandeza.
A sala de jantar da minha avó materna tinha um aparador com uma vitrine ao meio por onde se viam as loiças que saiam em dias de festa para alindar a mesa sempre com toalha de linho branca. Tinha também um lustre que lhe dava aconchego. Ligava à cozinha, com o seu fogão de lenha e os seus cheiros de boa comida, por uma grande porta.
Aos dez anos, já em Coimbra, comecei a frequentar diariamente a casa super clássica e chic da minha amiga. A mãe dela, a D. Cecília senhora muito boa e bonita, cultivava o bom gosto e a sala dela, em dias de festa, era para mim o paraíso. Uma lareira acesa, uma iluminação excelente, as paredes forradas a pinturas a óleo compradas em galerias. O que me ficou mais marcado? As loiças: os copos dos piquinhos como eu lhes chamava. Por que razão terei eu um serviço destes copos? O serviço de jantar em tons de azul. Não há vez nenhuma em que eu encontre algum sítio onde ainda existam que não me lembre desta velha amiga que tanto me ensinou.
Cá em casa, não há festa sem lareira acesa e sem jantares bem organizados e boa conversa. Fui vendo e sentindo. É deste sentir que nasceu o meu gosto pelo clássico, pelas coisas belas. Agora um pouco misturado, mas sabendo que a casa é ninho e que, embora os passarinhos filhos já não vivam cá, quando vierem quero que sintam o abraço das coisas e de tudo o que deixaram. Até eu não estar cá e serem as minhas netas a replicar estes sentimentos e memórias que eu agora tenho
A vida a acontecer.