Há algum tempo recorri às urgências com cara metade. Verificou-se que o valor da glicose estava muito alto. Chegou a enfermeira para atalhar o problema e a primeira pergunta saiu:
- Sabe ler?
-Como assim? Ler o quê? Outra língua? Algo difícil?
Afinal era mesmo ler, juntar sílabas e soletrar palavras!
Pensem comigo: estamos no século XXI e não temos aspecto de super velhos. Considero que também não temos aspecto de alguém que não andou na escola e não tem a escolaridade obrigatória. A minha avó, nascida em 1894 sabia ler e escrever correctamente! Todas as primas delas foram à mestra porque ainda não havia escola formalizada. Uma das primas da avó foi a minha professora do 1º ciclo!
O que teria levado a enfermeira a fazer esta pergunta? Sarcasmo? Falta de inteligência emocional? Vontade de aborrecer o doente e a família? Na altura deu-me para rir, mas pensando bem, penso que é grave!
Cara metade foi professor de Português e de Latim durante 37 anos numa das escolas da cidade e eu professora de CN e Matemática noutra escola do mesmo local. Tantos e tantos alunos que passaram por nós, nos lembram por algo que dissemos, ensinámos, estivemos com eles quando a fragilidade vinha à tona. Anos e anos de bem fazer que acabam numa sala de urgências?
- Sabe ler?
- Não. Sei ensinar! A si e a muitas como a senhora.
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